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O Amor pode significar uma longa ESPERA. Na foto… uma Mulher reflete a sua vida na Praia de Peracanga – Guarapari – ES. Foto: Marcelo Moryan

Era o fim de uma tarde sombria e, até onde minha memória alcança, lembro-me de que a ansiedade para ver aquele HOMEM extrapolava todas as minhas histórias de amor. Existia um indescritível ardor na minha boca e no meu corpo que jamais havia experimentado. Beijar ao menos suas mãos ou abraçar-lhe com toda luz que o seu olhar emanava seria para mim uma experiência DIVINA. Sempre tive este fascínio por tudo que ELE representava.

O avião que o trazia às terras tupiniquins pousou no dia 14 de outubro de 1991 em São Luiz do Maranhão, 08 dias após o meu aniversário. Vê-lo passar e acenar para a multidão em que eu me encontrava foi um dos maiores presentes que já ganhei na vida. Ainda me lembro daquele sorriso lindo e do aceno que roubei como uma exclusividade dirigida a mim.

Quando o vi de muito… muito longe proferir estas palavras em sua Homilia na MISSA CELEBRADA PARA OS FIÉIS DA ARQUIDIOCESE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO, fiquei ainda mais apaixonado:

Quando o homem se deixa arrastar pelas próprias paixões, para sustentar sua ânsia de prazer, de posse, de dominação e de bem-estar… não é rico para Deus”.

O Papa João Paulo II sempre foi, e ainda continua sendo, a minha grande paixão por tudo que ensinou e continua ensinando.

O que mais amo em João Paulo II é a sua DIMENSÃO HUMANA, cuja sabedoria não era desse mundo.

Recentemente e brilhantemente entendi mais ainda esta DIMENSÃO – aliás, cheguei a chorar quando li sobre a recente descoberta de sua vida íntima – As cartas que trocou durante toda a vida com sua amiga Anna Teresa Timinieska, casada, filósofa polonesa naturalizada americana. Não tinha como não chorar… é o ÁPICE DE TODA E QUALQUER DIMENSÃO HUMANA – A ENTREGA TOTAL AO AMOR… não o amor a que estamos acostumados, de pele e ossos, mas o amor de almas.

Por 30 anos, em mais de 350 cartas que hoje estão arquivadas na biblioteca da Polônia, João Paulo II se correspondeu com Timinieska – uma relação que a rede britânica de televisão BBC definiu como “mais que amigos e menos do que amantes”.

Nas cartas, o João Paulo II, divinamente humano que amo, fala de sentimentos de um homem comum… eis alguns trechos: 

“Sinto você em todo lugar”; “No ano passado já estava buscando uma resposta a essas palavras – EU PERTENÇO A VOCÊ – e finalmente antes de partir da Polônia encontrei uma maneira, um escapulário. A dimensão na qual aceito e sinto você em todo o lugar, em todos os tipos de situações, quando está perto e quando está distante”.

Quando em 27 de abril de 2014, o Papa Francisco, em cerimônia que teve a presença do Papa Emérito Bento XVI, declarou João Paulo II SANTO, eu simplesmente não entendi o porquê de colocar um rótulo tão pequeno em alguém que merecia algo GRANDIOSO. A Ala dos ditos Santos já soma mais de 20.000, segundo a Igreja Católica.

Com as cartas enviadas a Timinieska, João Paulo II prova que a verdadeira santidade está quando nos apoderamos de nossas fraquezas mundanas e as transformamos em um amor de almas – para tudo aquilo que a nossa condição humana vê puramente desejos carnais ele enxergou a grandiosidade do AMOR DE DEUS (Não se privou da irrelevante inocência da intimidade). Ele deu de presente a ela o que de mais precioso tinha, um escapulário. O escapulário para um religioso é como o seu passaporte de entrada para o paraíso. É a sua redenção e consagração à Santíssima Virgem Maria. Qual outro homem faria isso se não amasse profundamente e reconhecesse no outro a sua alma gêmea?

A Grande Lição deste HOMEM, com todas as letras maiúsculas, foi:

SIM, NÃO PRECISAMOS SER SANTOS PARA VIVER O AMOR DOS SANTOS. Basta-nos apenas a compreensão de que o AMOR deve sobrepor e vir antes de nossas próprias escolhas!

O Vaticano não confirma, mas é imensamente provável que a filósofa Timinieska estivesse presente no leito de morte de João Paulo II. Certamente deve ter dito a ele o que eu sempre tive vontade de dizer pessoalmente:

“EU MAIS QUE AMO VOCÊ, EU VIVO VOCÊ!”

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Na Janela do Convento da Penha, uma senhora reflete sobre o AMOR DE DEUS! Foto: Marcelo Moryan