Receber a notícia de que se está com uma grave doença como o câncer de mama não é nada fácil. Muitas mulheres se desesperam ao saber que vão perder os cabelos e o seio. Já a cerimonialista Marinete Miranda, de 40 anos, se apegou na fé e na informação para superar o problema e agora tenta conscientizar outras pessoas sobre a importância da prevenção.

“Quando fui no posto olhar o que falava sobre câncer não tinha um cartaz para me dizer nada. Nem se quer um 0800 em que a gente possa ligar para alguém que pelo menos possa ouvir nossa dor. Por isso, me coloquei a disposição e falo na igreja para grupos de mulheres e onde precisar que eu fale eu vou porque hoje o câncer é como uma febre que está batendo na porta de muitas pessoas e a maior parte delas são sem informação”, afirmou a cerimonialista.

Marinete acompanhada da irmã Janete Andrade na última sessão de quimioterapia. Foto: Arquivo Pessoal

Marinete relatou que descobriu a doença em agosto do ano passado durante um exame preventivo. “Faço meu preventivo todo ano. Não senti nada antes. Marquei meu preventivo sem nem pensar em doença, foi por pura prevenção e foi o que me salvou porque essa doença quando se sente algum sintoma dela, é porque já está em um estágio mais avançado”.

Após receber o diagnóstico,  ela decidiu buscar informações para conhecer melhor a doença e como seria seu tratamento. “Li biografias e fiz cursos online para eu poder entender os sintomas, o pensamento das pessoas, se meu problema era pequeno ou grande, para ver o que eu poderia fazer para ter chance de viver. Muita coisa eu fui buscar para ver se achava soluções”.

Mesmo durante o tratamento Marinete continuou trabalhando. Foto: Arquivo Pessoal

Durante o tratamento ela passou por oito sessões de quimioterapia, que causaram a queda dos seus cabelos. Mas, isso não fez com que ela se abatesse.” Perder os cabelos não era nada perto de ter que passar pelo tratamento. Ter que ter veias para receber as drogas, que são muito fortes. Quando eu olhava para meus filhos pensava meu Deus eu vou poder cuidar deles ou não? Olhava para o meu trabalho e pensava que sempre sou solução para os meus clientes e tinha uma agenda muita cheia e iria ter que chegar com esse problema para eles. Mas  meu oncologista me falou uma frase que dizia que meu marido e minha família me queriam por perto, mas só quem poderia decidir viver era eu e eu decidi que eu queria viver”, disse emocionada.

Ela é mãe de três filhos e foi o amor a família, aos amigos e ao trabalho que a ajudaram a lutar contra o câncer. “Eu tentava tirar força de tudo que eu amo, que são minha família, meus amigos e meu trabalho. Tentava olhar sempre para as partes boas. Se me falasse que minha doença era pneumonia, eu cuidaria com a mesma seriedade e recebendo as orientações e fazendo minha obrigação de me alimentar  bem e fazer o que me fazia bem”, lembra Marinete.

Mesmo durante o tratamento ela continuou trabalhando. Isto porque o trabalho lhe dava forças e os clientes mesmo cientes de sua doença acreditaram em sua recuperação e não cancelaram os contratos. ” Fiz um planejamento com o médico para poder trabalhar então fazia a quimioterapia de 21 em 21 dias. Recebia a quimioterapia na segunda e tinha segunda, terça e quarta para o organismo se adaptar ao medicamento e no sábado, que é quando tem as festas, eu estar bem. Mas eu saía na segunda e trabalhava e na terça também. Um ou outro dia não me sentia bem, mas os sintomas eram mínimos. Meus clientes falaram que acreditavam em mim e eu não tinha como fazer diferente para não decepcioná-los”.

Fé.  Marinete contou que é  católica, mas recebeu  orações de diversas religiões e em uma delas ela acredita que houve o sinal de sua cura. ” Na oração que fizeram para mim na Igreja São Francisco de Assis deu que eu iria sair dessa. Me viram velhinha com meus meninos e que isso iria passar. Depois que cheguei  em casa uma pessoa veio me entregar esse terço e entendi que esse terço era um sinal e até então não soltei mais dele”.

“Entendi que esse terço era um sinal e até então não soltei mais dele”. Afirma Marinete.

Além das orações, ela também recebeu outras manifestações de carinho que a ajudaram a superar o momento difícil que viveu. “Veio pílula do Frei Galvão da Aparecida do Norte. Chegavam frutas, peixes e até doação de cabelo. Também tinha serenata  do grupo de jovens e tudo isso foi tomando conta do meu coração, me sustentando, diminuindo minha dor e o peso na minha cruz. Não tem como não dizer que foi a fé em Deus e o carinho das pessoas que me salvaram”.

No primeiro Outubro Rosa após superar a doença, Marinete participou de uma campanha de conscientização contra o câncer de mama. Foto: Felipe Vieira

Segundo ela, as sessões de a quimioterapia deram um  resultado de quase 100% de redução do tumor, o que é raro. O próximo passo foi a cirurgia de retirada da mama esquerda. “Eu deveria fazer só a retirada de um quadrante, mas perguntei ao meu médico se não era melhor retirar ela toda. Ele me respondeu que se eu tivesse coragem, era melhor. Então falei que muita gente muita gente vive sem mão, muita gente come com o pé e muita gente não tem perna para andar então um peito para mim não faria falta”.

Com a retirada da mama o material colhido foi para a biópsia e o resultado foi surpreendente. “O resultado demorou para chegar porque o médico não estava conseguindo fazer os testes. Ele até ligou para perguntar o que eu fiz durante o tratamento porque ele não encontrava nada. Não achava nenhuma célula. Dava tudo não identificado ou ausente e ele não entendia porque isso não acontece. Era uma coisa muito boa e ele estava sem explicação”.

A terceira etapa do tratamento foi a radioterapia e mais uma vez a resposta do organismo da Marinete foi melhor do que geralmente acontece. Segundo ela, no mínimo são realizadas 50 sessões de radioterapia contra o câncer de mama e ela só precisou fazer 25. As sessões eram diárias e para não prejudicar o trabalho de familiares e amigos ela decidiu ir para Vitória fazer o tratamento todos os dias sem eles.

“Os sintomas são de cansaço, de ferir a boca  e de você não conseguir comer. Mas graças a Deus eu ia e voltava sozinha, me alimentei todos os dias e como minha sogra já tinha voltado para casa dela, conseguia fazer  janta e almoço e trabalhar. Nesses 25 dias eu sentia que Deus estava comigo, estava me carregando no colo, cuidando de mim e diminuindo minha dor do jeito que ele podia. Foi assim que eu terminei essa etapa e mais nada foi encontrado. Agora tenho a obrigação de ir de seis em seis meses fazer os exames”.

Recentemente marinete participou de um editorial de moda realizado por uma estilista que foi sua cliente no período em que esteve doente. Foto: Felipe Vieira

Outubro Rosa.No primeiro Outubro Rosa após superar a doença, Marinete participou de uma campanha de conscientização realizada por um blog da cidade e recentemente também vivenciou a experiência de fazer parte de um editorial de moda para lançar a coleção de uma estilista que foi sua cliente durante o período em que esteve doente. Agora ela lembra que apesar das campanhas do governo incentivarem a realização da mamografia só a partir dos 40 anos, o câncer de mama atinge homens e mulheres de várias idades. Ela também deixou um recado para quem está enfrentando a doença.  

“Fazer um exame e guardar em uma gaveta ou não ir ao médico porque você sentiu e está com medo da notícia só agrava a situação. Então quanto antes for diagnosticado melhor. A prevenção é o melhor remédio. Você prever uma doença e ter tempo hábil de cuidar, se antever no que puder. A beleza, a estética você conquista aos poucos  tudo novamente. Se você escolher viver, você vai encontrar a saída e ter a vitória. Mas você precisa desejar viver. Eu escolhi viver e Deus me permitiu”.

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