Um mistério que completa quinze anos intriga promotores e procuradores de Justiça, médicos, enfermeiros, faxineiros, enfim, todos aqueles que direta ou indiretamente tiveram contato com uma mulher, aparentando entre 35 e 40 anos que se encontra no Hospital da Polícia Militar (HPM), em Vitória, em estado vegetativo.

Várias formas de identificação foram tentadas, mas nenhuma com resultado positivo. Assim, essa mulher ganhou o apelido de “Clarinha”, por indicação de uma das enfermeiras que cuidam da paciente de forma especial.

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Fugindo de um perseguidor, também não identificado, Clarinha correu para o meio de uma avenida movimentada no Centro de Vitória e foi atropelada por um ônibus.Foto Reprodução/TVGazeta/Globo

Acidente. A história de Clarinha começa em 2000. De acordo com relatos de testemunhas na época, ela estava fugindo de um perseguidor, também não identificado, correu para o meio de uma avenida movimentada no Centro de Vitória e foi atropelada por um ônibus.

Foi levada para o antigo Hospital São Lucas, onde passou por diversas cirurgias. O cérebro foi afetado, impedindo que ela retornasse de um coma profundo. Sem documentos e com as digitais desgastadas, buscou-se, em um primeiro momento, encontrar algum conhecido dentre as testemunhas do acidente, mas ninguém tinha qualquer notícia da mulher.

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O médico Tenente Coronel, Jorge Potratz é quem cuida de Clarinha. Foto Reprodução/TVGazeta/Globo

Em seguida, Clarinha foi internada no HPM. A busca por familiares teve início, inclusive através de veículos de imprensa, por iniciativa do Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES). Mais uma vez, nada. Também se buscou auxílio junto a outros Ministérios Públicos, em bancos de desaparecidos, em delegacias, tudo na tentativa de identificação. De novo, o resultado foi infrutífero.

Clarinha continua no HPM, muito bem tratada pelo corpo médico e pelos enfermeiros. Nesses quinze anos de internação, recebe atenção especial, mas a situação de Clarinha precisa de solução. A falta de identificação traz problemas diretos para qualquer cidadão. No caso dela, não é diferente.

Nesse sentido, o MPES têm feito um trabalho intenso por todos esses anos para buscar familiares ou conhecidos de Clarinha. A promotora de Justiça Edwirges Dias expediu ofícios para todos os Ministérios Públicos, no sentido de integrarem essa campanha de identificação, apoiada pela também promotora de Justiça Arlinda Maria Barros Monjardim. “Trata-se de uma situação muito ruim, se observarmos que a Clarinha está viva e deve existir uma família em busca de notícias dela”, disse a doutora Edwirges.

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MPES têm feito um trabalho intenso por todos esses anos para buscar familiares ou conhecidos de Clarinha. Foto Reprodução/TV Gazeta/Globo

Doutora Arlinda conta que, recentemente, houve uma família que procurou por uma pessoa com as mesmas características da Clarinha. “Era uma mãe em busca da filha e chegou a identificá-la, talvez pelo afã da busca, pelo desespero da causa. Mas, infelizmente, o exame de DNA comprovou a inexistência de parentesco”, lembrou. Outras pessoas se disseram conhecidas, mas não se provou a veracidade dessas histórias.

Contato. As pessoas que tiverem alguma notícia da identidade da Clarinha devem procurar o MPES por meio do Promotoria de Justiça localizada no Centro Integrado de Cidadania (Casa do Cidadão) – Av. Maruípe, 2.544, Bloco B, Itararé- ES – Vitória.

Ligações. Até as 17 horas do dia 21, foram recebidas mais dez ligações referentes ao caso da “Clarinha”, totalizando 92 telefonemas nos últimos dias em busca de informações e relatando as circunstâncias em que a pessoa buscada desapareceu. O MPES ressalta que todas as ligações recebidas passam por uma triagem, para verificar a compatibilidade dessas histórias contadas com os dados da Clarinha.

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Das pessoas que procuraram a Promotoria de Justiça Cível de Cidadania de Vitória, 16 casos chamam mais a atenção, seja pela semelhança das fotos apresentadas.Foto Reprodução/TV Gazeta/Globo

Na Promotoria de Justiça também foram recebidas três famílias, encaminhadas pela Polícia Civil – uma de Minas Gerais e duas de São Paulo -, com relatos, fotos e documentos com dados muito próximos ao perfil da mulher que se encontra em coma no Hospital da Polícia Militar (HPM) de Vitória há 15 anos.

Esperança.  Do universo de pessoas que procuraram a Promotoria de Justiça Cível de Cidadania de Vitória, 16 casos chamam mais a atenção, seja pela semelhança das fotos apresentadas, seja pela similaridade dos dados. Esses casos terão prioridade na realização dos exames de DNA, que devem ter início em fevereiro, conforme agendamento a ser realizado com uma semana de antecedência pelo Grupo Especial de Trabalho Social (GETSO) do MPES.

A realização do exame será gratuita para todos aqueles que passarem por essa primeira triagem, não importando de qual Estado seja a pessoa, desde que tenha disponibilidade para vir ao Espírito Santo.