Depois da manifestação em forma de boicote contra o alto preço da gasolina em Guarapari no último sábado (14), o Portal 27 conversou com os responsáveis por alguns postos de combustíveis do município, para saber deles qual seria a explicação para os preços elevados.

Lauro Hoffmann, diretor financeiro de um posto de gasolina localizado no Centro da cidade, fez questão de mostrar a nossa equipe de reportagem as notas fiscais da gasolina adquirida, na qual consta, segundo ele, um valor de compra já elevado – quase R$ 3,31 –, o que impossibilita a comercialização do combustível com um preço mais baixo (a gasolina é vendida no local por R$ 3,86).

Foto: Gessika Avila/Portal 27
Lauro afirma que com o preço que ele paga pela gasolina, é impossível baixar o valor de comercialização. Foto: Gessika Avila/Portal 27

“A margem de lucro que nós temos aqui hoje é de pouco mais de 14%. A margem mínima para um posto funcionar hoje seria 15%. Mínima para você manter todas as despesas que você tem, como licenças, equipamentos – que são caríssimos. Funcionário é muito caro. Todo estabelecimento tem seus custos. As pessoas falam em cartel, que a gente combina preço. Eu vou combinar preço para ter essa margem de lucro? É uma coisa estranha, né?”, explica o diretor financeiro.

Três postos de combustíveis do município estão revendendo gasolina comum por R$ 3,75 para os clientes que, por ventura, realizarem cadastro ou pedirem cartão fidelidade. Nestes postos, a gasolina custa R$ 3,87, e, para quem possui o cadastro, é emitido um desconto. “Nós fazemos isso para fidelizar o cliente, para que ele possa escolher nossos postos para abastecer”, completa o proprietário, Mário Medeiros.

Nesta rede, o combustível é repassado a R$ 3,29. O empresário possui transporte próprio e precisa aplicar 16% de margem de lucro para tirar o seu faturamento. “Eu não consigo aplicar menos de 16%. Tenho meu próprio caminhão para fazer o transporte do combustível, mas, mesmo assim, tenho custos com o veículo”, afirma.

“Trabalhar com combustível é bem diferente do que trabalhar no comércio geral. Aqui nós não podemos dar um desconto à vista, por exemplo. E neste ramo, os preços podem ser acompanhados no site da ANP, já na revenda de roupas, por exemplo, os clientes não fazem ideia do valor que a peça foi adquirida e, muitas vezes, esse tipo de empresário pode aplicar mais 100% em cima do valor”, explica Mário.

Foto: Wilcler Lopes/Portal 27
Foto: Wilcler Lopes/Portal 27

Ele e Lauro Hoffmann disseram ainda que concordam com a manifestação realizada no último sábado e também gostariam de saber por que os postos de combustíveis de Vila Velha conseguem vender gasolina a R$ 3,29: “Nós também gostaríamos de saber porque as cidades vizinhas conseguem vender a gasolina no preço que nós recebemos o produto da distribuidora”.

Em Nova Guarapari, uma empresa vende a gasolina comum por R$ 3,69, mas já chegou a vender por R$ 3,59, após o último aumento dos impostos que aconteceu no mês de outubro. E a explicação do gerente, José Roberto Souza, é clara: “nós temos um posto de gasolina na Grande Vitória, e é de lá que nosso combustível vem. Por esse motivo, conseguimos um preço mais em conta para Guarapari”.

Em nota, o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom) disse que “não comenta os preços dos combustíveis, pois não possui ingerência sobre os fatores que influenciam nas suas variáveis, respeitando as premissas de livre mercado. Além disso, cada distribuidora tem a sua política comercial e decide o preço que vai praticar. Essas informações são restritas à área comercial de cada empresa. No Brasil, os preços dos combustíveis são liberados conforme a Lei nº 9.478/1997, alterada pela Lei nº 9.900/2000”.

*Reportagem: Gessika Avila e Roberta Bourguignon