Minha casa, minha vida: o sonho que virou pesadelo em Guarapari

 

 

Em outubro de 2014 o Condomínio Viver um Sonho Lindo, localizado no bairro Camurugi, do programa “Minha Casa, Minha Vida” do Governo Federal foi entregue à população de Guarapari. Foi a realização do sonho da casa própria para 192 de famílias carentes do município.

Mas o que era sonho rapidamente se transformou em pesadelo. Poucos meses depois de inaugurado o condomínio, os problemas com a criminalidade no local fizeram com que alguns moradores abandonassem seus imóveis e preferissem voltar a morar de aluguel ou de favor em outro lugar.

Logo os relatos começaram a aparecer, e muita gente procurou a Reportagem do Portal 27 nos meses seguintes para pedir ajuda. São depoimentos de consumo de drogas nas áreas comuns do condomínio, ameaças de criminosos contra moradores, agressões físicas e até cobrança de pedágio para que os moradores pudessem guardar seus carros dentro do condomínio.

No caso mais grave, o síndico teve uma arma apontada para cabeça. No dia 31 de janeiro deste ano um trio que tentou fazer um assalto na praia de Bacutia na Enseada Azul e chegou a atirar para cima, acabou sendo preso pela polícia. Eles estavam escondidos dentro do condomínio e a polícia acabou os localizando e prendendo-os. Duas armas também foram apreendidas.

Nas horas que se seguiram à prisão do grupo, os comparsas dos detidos invadiram o apartamento do síndico e com uma arma apontada para a cabeça dele, disseram que ele teria que pagar pelas armas perdidas. O homem abandonou o prédio com a família.

Num caso mais recente, os meliantes estariam controlando quem entra ou sai da área do condomínio de carro. “Eles estão intimidando os moradores, fazendo com que os motoristas desliguem os faróis e cobrando cinco reais para entrar com o carro. As coisas estão tomando um rumo muito complicado”, lamenta uma moradora.

Os relatos continuam. Ameaças contra moradores que não compactuam com os criminosos são comuns. “Eles intimidam as pessoas, passam armados perto de nós, ficam fumando maconha no parquinho que deveria ser para as crianças brincarem. Eu não tinha coragem de deixar minha filha sozinha em casa”, conta uma moradora que poucos meses depois de se mudar para o condomínio, acabou desistindo e hoje mora de aluguel em outro bairro.

A polícia constantemente tem feito incursões no condomínio para reprimir a ação dos bandidos e algumas prisões e apreensões foram feitas, mas logo os detidos retornam e as intimidações e crimes recomeçam. Na última semana os criminosos picharam uma folha de maconha em um dos muros e fez um alerta aos “vacilões” que eles (criminosos) estavam de volta.

“Roubaram até a torneira”

Depoimento de uma mulher que desistiu de morar no condomínio:

“Logo nos primeiros dias morando no apartamento, minha filha quis brincar no parquinho do condomínio. Enquanto ela brincava, roubaram os chinelos dela. Ela não entendeu muito bem aquilo e depois não quis mais voltar a brincar lá.

Em poucos meses vivendo ali vi cenas de tráfico de drogas, sexo e outras coisas que não deveriam acontecer em áreas comuns de um prédio. Comecei a ficar com medo também e resolvi sair do apartamento e morar de favor em outro bairro. Depois que saí de lá, antes da outra pessoa entrar, invadiram o apartamento e roubaram o botijão de gás. 

Da última vez que estive lá, já tinha mandado retirar a mobília e para minha surpresa, derrubaram a porta da frente do apartamento e roubaram até as torneiras e tomadas. As únicas coisas que tinham ficado no apartamento. 

Adquiri o apartamento principalmente para deixar alguma coisa para minha filha, por isso continuo pagando as prestações, mas não tenho vontade nenhuma de voltar a viver lá. Não tenho coragem”.

O que diz a polícia?

Procuramos o setor de comunicação do 10º Batalhão (Guarapari) da Polícia Militar para comentar sobre o problema de segurança no condomínio Viver um Sonho Lindo.

De acordo capitão Lourencini, a Pm é sensível ao problema enfrentado pelos moradores do condomínio e que diariamente policiais miliares fazem incursões na área afim de coibir a criminalidade no local. Mas ressaltou que trata-se de um local particular e que a ação da polícia acaba ficando restrita.

Lourencini lembrou ainda que qualquer morador ao perceber suspeitos no prédio ou cometendo crimes pode ligar para o número 190 e fazer a denúncia.

Prefeitura

A secretaria de Assistência Social explicou que os problemas relatados são de conhecimento da administração. “Vale salientar, que algumas famílias estão procurando a todo momento a SETAC, para comunicar por meio de Declaração a saída do condomínio, justificada pela insegurança após invasão de apartamentos por outras pessoas não selecionadas. Tais declarações tem sido recebidas e as famílias orientadas a entrar com ação popular junto ao Ministério Público, contra a CAIXA”, declarou.

A resposta na íntegra pode ser lida aqui.