As reclamações sobre o atendimento deficiente na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Guarapari são constantes e antigas. Quase semanalmente a redação do Portal 27 recebe denúncias de pacientes que passaram por algum problema na unidade. Na situação mais grave este ano, um homem morreu no estacionamento da unidade sem atendimento médico.

Dois casos de problemas na Upa chegaram até nós na última semana. No primeiro caso, uma filha ligou para o Portal 27 indignada com a falta de técnicos de enfermagem na UPA. No segundo caso, no último sábado, um paciente que havia sofrido o segundo acidente vascular cerebral (AVC) ficou horas esperando uma maca – isso mesmo, uma maca -, para ser transferido para o Hospital São Lucas, em Vitória.

Unidade de Pronto Atendimento de Guarapari. Reclamação de demora no atendimento e falta de macas. foto:: João Thomazelli/Portal 27
Unidade de Pronto Atendimento de Guarapari. Reclamação de demora no atendimento e falta de macas. Foto: João Thomazelli/Portal 27

Falta de macas

Na noite de sábado (27), o publicitário Ramissés Rocha de Almeida entrou em contato com o Portal 27 para fazer uma denúncia. O amigo dele sofreu um segundo AVC e precisava ser transferido para Vitória. Ele foi atendido na UPA e às 18h30 já estava com o encaminhamento em mãos.

Ramissés fotografou à meia noite uma ambulância no pátio da Upa, mas sem maca.
Ramissés fotografou, à meia noite, uma ambulância no pátio da Upa, mas sem maca para transferir o amigo.

Havia ambulância, motorista, documentos de transferência e vaga para ele no Hospital São Lucas, em Vitória, mas ainda assim, o paciente teve que esperar até a meia noite e meia para poder seguir para Vitória, pois na UPA de Guarapari não havia uma maca sequer para que ele pudesse ser transferido. O problema só foi resolvido quando outra ambulância, que havia levado uma vítima de acidente, retornou para a UPA.

“Ele poderia ter tido outro AVC ou até mesmo morrido ali, simplesmente porque não tinha uma maca para ele ser transferido. Mesmo sendo assistido, a UPA não tem infraestrutura para tratar de um caso assim por muito tempo. A UPA estava vazia, o atendimento foi rápido, mas ainda assim ele teve que esperar seis horas para ser levado”, lamentou Ramissés.

O paciente foi levado para o Hospital São Lucas e submetido a vários exames. Ele continua internado e aguarda avaliação médica.

Falta coletiva de funcionários

Na noite de quinta-feira (25), a filha de uma paciente que aguardava atendimento na UPA de Guarapari ligou para a redação do Portal 27 reclamando da demora. Uma placa fixada no balcão da recepção informava aos que procuravam atendimento que, por causa da falta de técnicos em enfermagem, os casos de urgência e emergência estavam sendo priorizados. Neste dia, 25 de fevereiro, seis técnicos de enfermagem faltaram, de acordo com a prefeitura. Todos do mesmo plantão.

Aviso no balcão da Upa sobre a falta de técnicos na última quinta-feira.
Aviso no balcão da Upa sobre a falta de técnicos na última quinta-feira.

Diante desta situação, muita gente que procurou atendimento acabou desistindo. Foi o que aconteceu com a aposentada Luncinéia de Araújo Marvila. “Terça-feira ela passou por um pequeno procedimento para retirar um tumor e o médico não receitou nada para ela. Hoje (quinta-feira), o local infeccionou e voltamos para lá, mas não tinha técnico de enfermagem. Eles avisaram na portaria que ia demorar e que só estavam atendendo quem chegava de Samu. Depois de esperarmos um tempão, desistimos. Minha mãe está lá, com febre e com o machucado cheio de pus. A gente é tratada como animal nesta cidade”, reclamou a filha de dona Lucinéia, Aline Marvila.

Ainda de acordo com Aline, vários pacientes desistiram de esperar e voltaram para casa. “Tinha até uma mulher recém operada de câncer que estava com febre e que não foi atendida. Um senhor que estava com um corte na mão precisava de pontos, mas acabou indo para casa por que ninguém atendia ele. Ele chegou a ir lá para dentro, mas desistiu depois de esperar um tempão e não ser atendido. Para que levar o pessoal lá para dentro se não vão atender? É para dizer que estavam atendendo?”, desabafou.

Prefeitura

Sobre os problemas citados nesta reportagem, entramos em contato com a Prefeitura de Guarapari. Sobre o problema da falta de maca, a prefeitura respondeu que:

prefeitura de guarapari
Prefeitura de Guarapari.

Quando os pacientes que dão entrada na UPA são referenciados (transferência) aos Hospitais de Vitória e adjacências, as macas ficam retidas junto com os pacientes, para o caso de, naquele momento, não haver leito disponível. Posteriormente, os motoristas retornam para buscá-las.


Recentemente o município adquiriu 20 novas macas (pranchas). As macas do município possuem identificação patrimonial, entretanto, muitas vezes são retidas nos hospitais de referência diante da necessidade de ser realizado o tratamento do paciente nelas mesmas, quando não há disponibilidade de leito imediato.

Não havendo disponibilidade de macas, o paciente que fica na UPA aguardando o Transporte Sanitário para hospitais na Grande Vitória são devidamente assistidos por toda a equipe de profissionais médicos e enfermagem daquela unidade, até o que o trasporte seja realizado, de acordo com a vaga definida pela Central de Vagas do Estado. 

Procuramos então a Secretaria de Estado de Saúde, que nos respondeu:

“A Secretaria de Estado da Saúde informa estes hospitais são de urgência e emergência e, quando recebem pacientes para procedimentos rápidos – que não são realizados nas unidades de saúde – utilizam a maca até retornar ao município a fim de não ocupar um leito que deve priorizar os pacientes com o perfil do hospital”.

Quanto ao problema da falta de funcionários na última quinta-feira, a prefeitura foi mais incisiva:

A situação será investigada pela Secretaria de Saúde, pois, houve estranheza em relação ao fato de haver 06 faltas simultâneas neste dia. A estranheza se deu pelo fato de que até o dia 20/02, período em que o município concede uma gratificação aos servidores, não houve falta. A partir do dia 21/02, as faltas começaram a aparecer. Será verificado se há alguma relação entre esses fatos e, se houver, providências administrativas serão tomadas.