De volta do Japão depois de passar duas semanas participando de um curso de Gestor em Policiamento Comunitário – Método Koban, o capitão Lourencini, do 10º Batalhão (Guarapari) da PM, conversou com o Portal 27 sobre a experiência.

Há quase dez anos as polícias japonesa e brasileira fazem um intercâmbio com troca de experiências e informações em várias áreas da Segurança Pública. Guarapari já foi visitada em diversas oportunidades por representantes do Japão que vieram analisar as experiências de ferramentas da segurança pública implantadas aqui, como a Patrulha da Comunidade e o projeto guarapariense Repas (Rede de Promoção de Ambientes Seguros).

Portal 27: Devido às caraterísticas culturais e sociais dos dois países, é claro que os índices e tipos de crimes mais comuns no Brasil e Japão são completamente diferentes. Dito isso, o que chamou mais a sua atenção no período em que o senhor acompanhou os trabalhos dos policiais japoneses?

Capitão Lourencini: Um crime muito comum na província de Osaka é o furto. Aquele em que o meliante subtrai um bem da vítima sem que ela perceba. Os casos estavam acontecendo em certa região com cidadão que deixavam os pertences dentro das cestinhas das bicicletas.

Na campanha de prevenção de furto em bicicletas na província de Osaka sendo observado por uma voluntária a colocação da bolsa protetora na cesta da bicicleta. Divulgação
Na campanha de prevenção de furto em bicicletas na província de Osaka. Capitão Lourencini é observado por uma voluntária enquanto coloca uma scolca protetora na cesta da bicicleta. Divulgação

A polícia então criou uma campanha para alertar a população sobre a prática e passou a distribuir sacolas para que as pessoas colocassem nas cestas e depois fechassem em cima, dificultando a ação dos marginais. Eu mesmo participei da distribuição e colocação de algumas sacolas nas cestas das bicicletas. De fato é uma mentalidade completamente diferente.

 

Portal 27: E como é a relação da população com a polícia?

Capitão Lourencini: Vou te dar um exemplo: em Osaka, que tem cerca de 8 milhões de habitantes, a força policial é de 23 mil. Contudo, o número de voluntários, que ajudam a polícia de várias formas, é de 140 mil. Eles são devidamente cadastrados e usam até roupa diferenciada, mas são pessoas comuns, na sua maioria aposentados, que querem ajudar a polícia. Este é um exemplo da relação da sociedade japonesa com a polícia.

 

Portal 27: Pode citar outro exemplo?

Capitão Lourencini: A maioria das crianças japonesas vai para a escola sozinhas. Depois do primeiro ano, elas andam nas ruas como qualquer outro cidadão. É normal vê-las caminhando, pegando o metrô, esperando no semáforo… E são tratadas como qualquer outra pessoa. É perceptível a relação dos adultos com elas. Eles às veem como outras pessoas e não como inferiores ou menos capazes. É claro que se elas precisam de ajuda, eles ajudam. Inclusive, muitos destes voluntários que citei acima, ajudam a ficar de olho nelas.

Lourencini com um senhor que teve sua propriedade rural visitada por um policial japonês, para demonstrar aos policiais brasileiros como é feita a visita Comunitária.
Lourencini com um senhor que teve sua propriedade rural visitada por um policial japonês, para demonstrar aos policiais brasileiros como é feita a visita Comunitária.

Portal 27: O que o senhor aprendeu lá que pode ser aproveitado em Guarapari?

Capitão Lourencini: Algo muito comum no método Kobam são as visitas comunitárias, algo muito parecido com o que já fazemos aqui em Guarapari, visitando estabelecimentos comerciais, por exemplo. Mas lá eles tem toda uma metodologia nestas visitações. Eles preenchem até um formulário com uma rotina de perguntas. Outro exemplo que eu já coloquei em prática aqui na 3ª Cia (Lourencini é comandante da companhia) foi um policial em frente do posto policial.

Assim, sempre a população vai ter com quem falar em caso de necessidade. Claro que no Japão, o policial fica como sentinela no posto, mas isso é uma característica deles. Aqui o policial circula nos comércios próximos da Companhia, conversa com os comerciante e moradores.

Capitão Lourencini com dois policiais em frente a um posto da polícia japonesa. Experiência já faz mudanças na 3ª Cia da Pm em Guarapari.
Capitão Lourencini com dois policiais em frente a um posto da polícia japonesa. Experiência já faz mudanças na 3ª Cia da Pm em Guarapari.

Portal 27: Alguma outra mudança?

Capitão Lourencini: A meta do batalhão para os próximos meses e atingir 100% de todos os 5º anos da rede pública de ensino com o Proerd. Sabemos que a educação é fundamental para tirar as crianças das ruas e do caminho errado. No Japão isso é muito bem fundamentado e aqui o Proerd tem obtido resultados muito bons também e por isso pretendemos ampliar este trabalho.

Para a Região Norte de Guarapari, além da reforma completa da sede da terceira companhia, o batalhão vai implantar um Destacamento da Polícia Militar (DPM) em Village do Sol. Isso vai facilitar o acesso dos moradores daquela região em caso de emergências. É provável que esteja tudo pronto antes do início do verão deste ano.

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