“O que é a verdade?” Esta é seguramente a pergunta mais instigante já feita por um homem – o Pilatos que está em cada um de nós. O maior julgamento da história ainda acontece todos os dias. De um lado, o réu trocou de nome, a caminho do calvário estão as Marias, Pedros, Helenas, Marlenes… – uma longa fila para ser citada sem culpas. Do outro, o Governador Romano na Judéia, Pôncio Pilatos, se reveste em nós como um encontro de almas gêmeas – continuamos a julgar nosso próximo e a lavar as mãos para seus infortúnios. Somos Réus e Juízes de uma mesma coincidente procura – Queremos saber a qualquer custo “o que é a verdade”. “Será que ele fala a verdade quando diz que me ama? E amanhã, vai continuar amando?” Será? Será? Será? Os interrogatórios silenciosos que fazemos da verdade compartilham com nossos demônios, a histérica estratégia de cercá-la, açoitá-la e crucificá-la.

Chegamos ao extremo de criar leis tirânicas para rotular a verdade e assim, de alguma maneira, pensarmos que ela está sempre do nosso lado. O Mullá Nasrudin (Khawajah Nasr Al-Din), personagem de suas próprias histórias, ilustra este assunto muito bem: “Um Rei mandou publicar um edital: Todos serão interrogados. Aquele que falar a verdade terá seu ingresso na cidade permitido através da ponte. Caso mentir, será enforcado. Nasrudin deu um passo à frente e começou a cruzar a ponte. – Onde o senhor pensa que vai? – perguntou o Chefe da Guarda. – Estou a caminho da forca – respondeu Nasrudin. – Não acredito no que está dizendo! – Muito bem, se eu estiver mentindo, pode me enforcar. – Mas se o enforcarmos por mentir, disse o chefe da guarda, faremos com que aquilo que disse seja verdade! – Isso mesmo – respondeu Nasrudin. – Agora você já sabe o que é a verdade: É APENAS A SUA VERDADE.”

A verdade é como o sol e muitas são as lentes que usamos para filtrá-la. Aquele que usa as lentes verdes da esperança não concorda com o outro que filtra os raios pelas lentes vermelhas – o primeiro acredita que o brilho do sol é uma imensa luz neon a nos convidar para um sonho de paz. O segundo é partidário da força bruta ao concluir através de suas lentes que o brilho solar é um vulcão efervescente, cujo magma declara guerra a tudo o que encontra pela frente, enterrando sob cinzas o que de divino ainda nos resta – nossas lembranças de amor que tentam fugir da cruz, elevada no calvário da consciência, antes que a furiosa tempestade de vingança nos convença a dizer: “Pai, não os perdoem, amanhã serão eles os crucificados”.

A inquietante pergunta de Pilatos é a doença de todos os que almejam conhecer a verdade sem antes refletir as palavras do Cristo: “TODO AQUELE QUE É DA VERDADE, OUVE A MINHA VOZ”. Eis o enigma para o qual todos temos uma solução egoísta – Queremos ser donos da verdade. Não imaginamos que ser da verdade é escutar a voz da vida incessantemente dizendo: “Ame… simplesmente ame” ou como dizia Emmett Fox: “Se você pudesse somente amar bastante, você poderia ser a pessoa mais poderosa (e verdadeira) do mundo.”

Blaise Pascal na sua busca matemática pela verdade disse: “Tudo é verdadeiro em parte, e em parte também falso”. Ninguém precisa de uma vida monástica, nem dos açoites da mortificação corporal do Opus Dei, uma prelazia pessoal do Papa, para encontrar a pedra filosofal do enigma crístico, o amor – ela não dá a resposta do que pode ser “a verdade de cada um”, mas nos encanta com a conclusão de que, enquanto todos estiverem usando as suas lentes para ver o sol, ora a verdade será verde, ora amarela, vermelha, azul… verdades em parte e em parte também falsas.

Quebrar nossas lentes não seria sensato, a verdade ficaria tão nua que nos cegaria de tanta vergonha. Que tal fazermos alguns furos nas lentes? LITERALMENTE FURAR OS OLHOS DESSA VERDADE MUNDANA, assim antes de julgarmos no tribunal da vida se a verdade é verde ou vermelha refletiríamos sobre a luz natural do amor que entra pelas frestas. Acredite, aos poucos estas frestas podem nos salvar da morte de Ícaro, fazendo-nos voar rumo ao sol da verdade, não com as falsas asas da liberdade (de que somos imparciais, de que acreditamos nas verdades dos outros), mas feitas do mesmo fogo incandescente da luz que queima nossos Pilatos, salva-nos as Joanas d’Arcs e iluminam-nos com a compreensão de que precisamos urgentemente salvar o nosso Cristo, ainda pregado à cruz por um cravo mais ferino do que o afiado ferro romano – a verdade do homem que escraviza sua liberdade e o proíbe de amar diretamente a Deus, sem intermediários…

“O que é a verdade?” Se o nosso Pilatos ainda não foi capaz de entender a resposta silenciosa de Cristo, (a verdade estava à sua frente – amor em carne e espírito), reflitamos então sobre as palavras de um inspirado poeta indiano chamado Rabindranath Tagore: “Se fechares a porta a todos os erros, a verdade ficará na rua”.

MISÉRIA NO MUNDO - UMA VERDADE QUE NÃO PRECISA DE JULGAMENTO... EMBORA  MUITOS FINJAM SER INVISÍVEL...
MISÉRIA NO MUNDO – UMA VERDADE QUE NÃO PRECISA DE JULGAMENTO… EMBORA MUITOS FINJAM SER INVISÍVEL…

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