Há lembranças tão icônicas que nos separar delas seria o mesmo que provocar uma mutação em nosso DNA emocional. Duas delas fizeram em mim um “apartheid” gigantesco, uma luta fatricida em que o BEM parecia ser sempre a parte frágil – prestes a se estilhaçar e me ferir.

A primeira delas foi quando na madrugada de 11 de novembro de 1990 acordei minha mãe, que curtia boxe, aos gritos : “MÃE, MIKE TYSON CAIU”. A felicidade não cabia em mim tamanha era sua imprevisibilidade – pela primeira vez na história o ARROGANTE pugilista, que coincidentemente tinha a mesma idade que eu, 23 anos, o deus do boxe, beijava a lona. Coube ao desacreditado e azarão Buster Douglas a missão de acertar uma sequência de uppers e nocautear aquele que se dizia “INVENCÍVEL”.

A segunda aconteceu 13 anos depois, em 01 de janeiro de 2003, quando me enchi com todas as esperanças do mundo, e tendo votado no 13, assistia com minha família a posse de LULA, Presidente – O CARA… o cara que carregava todos os sentimentos de humildade da classe trabalhadora… o cara que me faria um refém de dogmas ditos “imperialistas”. Era o oposto da arrogância de Tyson… era o “BEM” que jamais seria vunerável e venceria todos os PORCOS da política. Para mim todos os políticos eram porcos (e com raríssimas exceções, continuam sendo). Apenas e tão somente LULA não me decepcionaria. Naquele dia lembro de ter abraçado a minha mãe e dito: “Agora nossa carroça sai do atoleiro”. Enfim o Brasil que tanto esperávamos estava nascendo.

Os anos foram se passando e a advertência de Abraham Lincoln se provou fatídica: “Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”. A razão e a prática suja do cotidiano político não quiseram dar ouvidos para minhas ingênuas dúvidas: “Oh não, Lula jamais seria capaz de entrar nesse lamaçal”. Ledo engano… fato era fato – afinal qual alegria de pobre você conhece que já tenha durado mais que suas ilusões?

Restou para mim não só o “engano”, mas o isolamento político familiar – minha família continuava acreditando no “São Lula”, o pai de todos os pobres… e talvez até hoje ainda acredite (risos). Capítulo à parte, me acomodei no silêncio, pois aprendi que tudo que causa divisão você deve sofrer como uma penitência antecipada à espera de um milagre – foi então que passei a sonhar com outro “Buster Douglas “… aquele que levaria o dito INVENCÍVEL LULA a beijar a lona.

Quando conto sobre a minha trágica ingenuidade de ter apostado todas as minhas fichas em Lula, a maioria revida: “Você acha que Fulano, Beltrano e Cicrano são santinhos e honestos e só o Lula é o corrupto?”. Sempre respondo: “Ao contrário, Lula era o CARA, os outros farinha do mesmo saco”. Minha mágoa sempre foi com o LULA e desde o mensalão leio linha por linha de tudo que o cerca… e por mais que o meu coração quisesse acreditar ser salvo de um pesadelo por alguma teoria conspiratória, fechar os olhos para a REALIDADE só atrasaria o meu regresso aos trilhos da VERDADE: Lula foi um blefe da minha história antiga, que acreditava em símbolos como Fidel, Che Guevara, teologia da libertação, UNE e…. (risos)…. deixe o resto pra lá….

Hoje, 28 anos depois de ter acordado minha mãe aos gritos, enviei uma mensagem para ela pelo Whatsapp: “Mãe, Buster Douglas nocauteou o ARROGANTE LULA”. Ela ainda sem entender direito disse: “Quem é Buster Douglas?”. Repondi com aquele ar, não de felicidade, mas cheio de paz, porque enfim poderia de alguma forma me agarrar na justiça (ainda que tardia): “Desculpe Mãe… Moro, Sérgio Moro, o meu Buster Douglas”.

A ingenuidade ceifada já não me permite mais acreditar que Lula vai ficar preso por mais que alguns dias ou poucos meses, mas um único dia na cadeia provará que ele, como todos nós, é apenas um pobre mortal, e claro, escreverá um capítulo vergonhoso na história cujo primeiro páragrafo será:

LULA, o CARA… O CARA DE PAU que se comparou a Jesus Cristo, Nelson Mandela, Mahatma Gandhi e a Getulio Vargas, já no fim das contas, com seu “Jus sperniandi” (quando o inconformismo natural se torna abuso do direito de recorrer), acertou apenas em se comparar ao populista e controverso Getúlio – que como ele sempre dizia “NÃO SABER DE NADA”.

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