Era uma sexta-feira. Lola, uma boliviana, pediu que sua filha Araceli saísse da escola mais cedo e fosse entregar um envelope a um grupo de rapazes. Dentro, havia drogas. A menina não sabia. Quando Araceli chegou ao edifício Apolo, em Vitória, os rapazes já estavam drogados. Ali Araceli foi violentada, os bicos dos peitinhos e a vagina foram lacerados a dentadas. Depois jogaram ácido sobre ela. Seu corpo foi encontrado dias depois, no matagal nos fundos de um hospital, por um garoto que caçava passarinho.

Seu rosto ficou desfigurado, corroído pelo ácido, dificultando o reconhecimento. Este crime aconteceu no dia 18 de maio de 1973. Os acusados eram Paulo Helal, filho de um rico proprietário de imóveis, hotéis, fazendas, estabelecimentos comerciais e poderoso membro da maçonaria capixaba e Dante de Bríto Michelini, filho de um exportador de café. A sociedade capixaba da época silenciou. Apesar da ampla cobertura da mídia, o caso ficou impune .

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Araceli foi morta brutalmente

Em 1998, na Bahia, um encontro promovido pelo Centro de Defesa da Criança e do Adolescente – CEDECA, representante oficial da organização internacional que luta pelo fim da exploração sexual e comercial das crianças, e mais de 80 entidades, escolheram o dia 18 de maio como o Dia Nacional Contra o Abuso e Exploração Sexual e Infanto-Juvenil. Lembrando o impacto da morte de Araceli e a impunidade dos criminosos, este dia é uma reafirmação da responsabilidade brasileira em proteger crianças e adolescentes de toda e qualquer forma de violência sexual.

O abuso sexual de crianças tem sido por demais tolerado em nossa sociedade. A violência contra crianças e adolescentes ofende a Deus. Jesus afirmou, certa vez, que quem escandalizasse um desses pequeninos, “melhor seria que pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e se precipitasse na profundeza do mar” (Mateus 18:6). Afirmou também que quem os recebesse, recebia a Ele próprio. Portanto, lutar pela proteção das crianças é lutar para que o amor de Cristo e sua justiça sejam manifestos a todos e todas, independente da idade ou condição social: “Esquecer é permitir. Lembrar é combater” .

Pastora Maria de Fátima de Oliveira Souza David