Por Fernando Otávio | A questão dos imóveis de uso ocasional em Guarapari é uma faceta complexa do turismo. Estes imóveis, embora contribuam para acomodar um grande número de turistas, e veranistas, pois muitos não se comportam como turistas,  especialmente durante a alta temporada, trazem desafios significativos para a sustentabilidade e qualidade do turismo.

O Impacto dos Imóveis de Temporada

A tendência crescente de imóveis de uso ocasional uma vez que este número de domicílios vagos particulares no país para uso ocasional, como turismo, aumentou em 70% entre 2010 e 2022, para 6.672.912 de residências, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representa um desafio para cidades turísticas como Guarapari. Com um número expressivo de residências vazias na maior parte do ano, a cidade enfrenta desequilíbrios em sua infraestrutura, geração de empregos  e a sustentabilidade de serviços e empresas turísticas.

Cinquenta e três municípios brasileiros têm mais residências desocupadas do que ocupadas, segundo o Censo de 2022

Cinquenta e três municípios brasileiros têm mais residências desocupadas do que ocupadas, segundo o Censo de 2022. No total, o país tem mais de 5.500 cidades.A maior parte dos 53 municípios está concentrada no litoral. Nelas, há uma população flutuante na temporada, como períodos de férias e feriados, o número de pessoas chega a quadruplicar

No litoral brasileiro, que conta com 279 cidades, 12% dos imóveis recenseados são de uso ocasional, um valor cinco pontos percentuais acima da média nacional, que é de 7%, de acordo com o último levantamento do IBGE.

Guarapari não está entre os 53 municípios com mais imóveis de uso ocasional, tem 33,6% e existem municípios com 75,9% como Arroio do Sal-RS. Na lista dos 53 municípios o menor percentual está com 50,2% que é São Francisco do Sul -SC, mas nem por isso tem um turismo de qualidade ou no mínimo sustentável.

A superlotação durante uma temporada, com relatos de até 50 pessoas por imóvel, excede a capacidade sustentável de Guarapari. Estima-se que a cidade possa receber confortavelmente menos de 180 mil pessoas por dia, mas a realidade do verão ultrapassa esses números, gerando pressões ambientais e sociais.

Buscando o Equilíbrio

Qual a relação saudável entre imóveis de uso ocasional e empreendimentos como hotéis e pousadas? Não existe uma resposta correta, mas  importante é trabalhar uma relação saudável.

Para alcançar um turismo sustentável e de alta qualidade, é necessário equilibrar essas ocupações com a oferta de hotéis e pousadas. Guarapari, com uma proporção de mais de 200 imóveis de uso ocasional para cada empreendimento hoteleiro, precisa reavaliar essa dinâmica.Se pegarmos os dados do IBGE 2022  e comprarmos com o número de hotéis  ou pousadas com CNPJ vamos ver Anchieta com 75 imóveis para cada Hoteleiro, um número maior que Santa Teresa cuja relação está em 44×1 ou Domingos Martins com sua força nas montanhas que tem 54 x 1. Todos perdem em muito para Guarapari que com seus quase 29 mil imóveis de uso ocasional.

Talvez isso comece a esclarecer o porque o ticket médio da hotelaria na cidade saúde é menor que estes lugares.Cidades com turismo com ticket médio ainda menor que Guarapari estão com uma relação ainda pior, como acontece em Marataízes com mais de 300 imóveis para cada  empreendimento hoteleiro.

A valorização dos imóveis está diretamente relacionada à sua gestão sustentável. Exemplos como Vitória, com uma menor proporção de imóveis de uso ocasional, 3,3% apenas,  mostram que a sustentabilidade na ocupação dos imóveis pode ser um fator importante na  valorização imobiliária .

Fernando Otávio – presidente da Associação de Hotéis e Turismo de Guarapari – AHTG

Estratégias para Regularização e Sustentabilidade

  • – Facilitar a implantação de novos negócios na cidade – Isto cria incentivos para Ocupação Permanente: Incentivar a ocupação permanente desses imóveis pode ajudar a equilibrar a oferta e a demanda de mobilidade, beneficiando tanto os proprietários quanto a economia local.
  • – Limites de Ocupação: incentivar para que os imóveis sejam ocupados dentro dos limites de ocupantes por imóvel vai ajudar a controlar a superlotação e seus impactos negativos.
  • – Cadastro e Controle de Locações: A implementação de um cadastro obrigatório para locações de temporada, conforme proposto durante a pandemia, pode oferecer um controle mais eficaz sobre o uso desses imóveis.
  • – Controle de Acesso de Ônibus: A proposta do COMTUR de controlar o acesso de ônibus na cidade é um exemplo de medida que pode ajudar a gerenciar o fluxo turístico e reduzir o impacto sobre a infraestrutura local.

Conclusão: Parcerias para um Turismo de Qualidade

Para Guarapari alcançar um turismo sustentável e de qualidade, é essencial uma parceria entre o governo municipal, empresários e a comunidade. Medidas práticas e regulamentações eficazes podem transformar a forma como os imóveis de uso ocasional são geridos, contribuindo para um turismo mais responsável e benéfico para todos.

Uma jornada rumo à excelência em turismo requer uma visão estratégica e colaborativa. Ao enfrentar esses desafios com soluções inovadoras e sustentáveis, Guarapari pode se posicionar como um destino turístico exemplar, equilibrando suas belezas naturais e culturais com um desenvolvimento econômico responsável e inclusivo.