Módulos de hospedagem em formato de igloo faziam sucesso em praia de Guarapari 

Por Carlos Henrique Souza – Especial para  o Portal 27

Não deve ser difícil encontrar entre os nossos vizinhos mineiros, alguém que não tenha sonhado em passar o verão hospedado num dos 108 módulos em formato de igloo, construídos a 50 metros da Praia de Santa Mônica. Apesar de pequenos, as charmosas estruturas de concreto armado atraiam pelo diferencial e hospedagem barata, mas com certo estilo. No auge, o iGLOO chegava a comportar até 400 pessoas por dia. Mas o modelo de hospedagem não foi uma novidade genuinamente guarapariense. O iGLOO fazia parte de um rede nacional, com unidades em várias partes do país como São Paulo, Rio e Bahia.

Falência

igloos foram construídos a 50 metros da Praia de Santa Mônica.
igloos foram construídos a 50 metros da Praia de Santa Mônica.

Apesar do imenso sucesso do empreendimento, em meados dos anos 90 veio a falência do negócio. Segundo um ex-funcionário, que prefere não se identificar, a unidade de Guarapari quebrou por má gestão. Ele conta que a rede de hospedagem era formada por muitos sócios, que tinham interesses distintos – incluindo divergências relacionadas a investimentos prioritários.

Na época da falência, os 11 funcionários do iGLOO foram dispensados sem receber os direitos trabalhistas. Alguns deles até tentaram continuar com o negócio, uma vez que a estrutura estava em perfeito estado. Entretanto, os donos chamaram a polícia, que fez a reintegração de posse do imóvel. Meses depois, populares invadiram o local de madrugada e depenaram todos os 108 módulos “Arrancaram portas, janelas, torneiras, levaram os colchões. Não sobrou nada”, diz o ex-funcionário.

Desempregados e sem receber, os grupo de funcionários decidiu entrar com uma ação coletiva na justiça contra os donos do iGLOO “Mas até hoje o processo está parado na justiça”,  diz o ex-funcionário “ Teve um funcionário que já até morreu sem que a ação trabalhista fosse julgada”, conta.

Situação atual

Com 6 mil e 156 metros quadrados, a área total pode ser adquirida pela bagatela de R$ 2 milhões, isso é o que afirma o corretor de imóvel Simão Rodrigues. Segundo ele, hoje, a área pertence a um antigo funcionário do iGLOO, que recebeu o imóvel como pagamento pelos direitos trabalhistas. Informação confirmada pela seção de registros da Prefeitura de Guarapari. Desde 2009, a quadra 6 do loteamento Praia de Santa Mônica está registrado no nome de Adilson dos Santos Vaz.

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Em meados dos anos 90 veio a falência do negócio

Enquanto não é vendida, a área foi tomada pelo mato e é sendo utilizada como dormitório de andarilhos, quem afirma é o presidente da Associação Representativa da Região Norte de Guarapari, a ARRENG “Aquilo ali está completamente abandonado há muitos anos. O poder público precisa tomar uma atitude. Quando o então governador Paulo Hartung esteve visitando um projeto de futebol aqui no bairro eu pedi para que o Estado adquirisse a área e construísse uma escola no lugar. Mesmo com a promessa do ex-governador, o projeto nunca saiu do papel”.

Vida própria

Até o início dos anos 90, Santa Mônica vivia uma situação invejável em relação a outras praias da Cidade Saúde. Mesmo sem infraestrutura ideal, como ruas pavimentadas e supermercados, o bairro contava com uma ampla rede de hospedagem de baixo custo.Só para citar alguns, havia o Interpass Club, o hotel Assbemge, o Free Time, o Maxitur, o condomínio da Madalena – na Quinta, pousada e camping Costamares, sem falar nos bares e restaurantes famosos: o restaurante Ali Babá – com sua mini Boate e ótimo carnaval, o bar Zabumba, a cabana Gaivota, o bar da Dona Alda, o inesquecível Barari, e mesmo restaurante do Nem – já no vizinho Perocão – que atraia muitos turistas em busca de boa comida.

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A área total pode ser adquirida pela bagatela de R$ 2 milhões

Decadência

Mesmo economicamente viável, o bairro ficou esquecido pelo município e, aos poucos, o foi entrando em franca decadência. A rede hoteleira simplesmente quebrou, os bares e restaurantes que não fecharam sobrevivem como podem. Apesar de tudo, os comerciantes sonham com o renascimento da região, principalmente com a revitalização de parte da Orla – cujos trabalhos estão parados desde 2010! Nos últimos dois anos algumas ruas foram pavimentadas, mas diante do tamanho do bairro não foram suficientes para apagar a imagem de decadência impregnada no lugar. Vide a quantidade de casas de veraneiro e terrenos baldios abandonados.

A situação do ainda bucólico balneário, e por extensão do iGLOO, é só uma amostra de como as administrações anteriores da Cidade Saúde viam o turismo: como uma coisa menor, sem importância.