Uma doença ocular está deixando assustados pais e alunos de uma escola pública em Guarapari. Trata-se do Tracoma, uma bactéria  (Chlamydia trachomatis) que afeta a córnea dos olhos e pálpebras, levando a uma inflamação crônica. Ela resulta na formação de uma cicatriz e até em cegueira.

A reportagem do Portal27 recebeu várias ligações de pais denunciando um “surto” de tracoma na escola. “Após várias crianças aparecerem com a doença na escola, a secretaria de saúde, chamou uma médica, para nos dar explicações. Mas o que ela conseguiu foi nos deixar mais assustadas”, disse uma mãe ouvida pelo portal27.

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Tracoma, uma bactéria que afeta córnea dos olhos e pálpebras, levando a uma inflamação crônica.

Ainda de acordo com a mãe que não quer ser identificada, foram feitos exames, os quais resultaram que cerca de 150 crianças estão afetadas. Mas mesmo com muitas crianças sendo diagnosticas livres da bactéria,  como é o caso do filho dela, ela vai procurar outros especialistas. “Eu já marquei um oftalmologista para o meu filho. Muitos pais vão fazer o mesmo. Estamos desconfiados desses exames”, disse.

Mandado de segurança.  Na escola existe um aluno e de acordo com a sua mãe, sofre com o tracoma desde o nascimento. Ela tentou o tratamento gratuito junto à prefeitura, mas o mesmo foi negado. “Pelos medicamentos serem muito caros, como não disponibilizaram, eu entrei com um mandado de segurança na defensoria pública”, explica a mãe.

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“Ele não passou para as outras crianças. Elas já tinham e não sabiam”, diz mãe de aluno que tem luta contra o tracoma desde o nascimento.

Após conseguir a vitória na justiça, ela foi chamada para comparecer e fazer o exame de tracoma na própria secretaria. Após confirmar a doença na criança, a secretaria resolveu fazer o exame em todas as crianças da escola.  “Depois disso, chamaram essa médica que foi na escola. Porém, essa é uma médica sanitarista e não oculista pediatra”, diz a mãe.

Ela que convive desde cedo com a doença em seu filho, questiona também os métodos do exame. “O exame foi feito na escola, através de uns óculos. Mas o correto seria fazer através do exame de sangue”, afirma.

Transmissão. A mãe nega que o seu filho seja a fonte de transmissão para os outros alunos. “O meu filho foi o primeiro a ser detectado com a doença. Ele não passou para as outras crianças. Elas já tinham (a bactéria) e não sabiam”, afirma e conclui. “Tem crianças que não tem contato com meu filho e também pegaram a doença”, disse.

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“Tem crianças que não tem contato com meu filho e também pegaram a doença” diz mãe de aluno.

Dúvidas. Com esse “surto” na escola e mesmo com as explicações dos médicos da secretaria, alguns pais continuam em dúvidas com relação à doença. “O meu filho tem apenas quatro anos e está entre as 150 crianças que adquiriram a doença. O olho dele coça muito, o que me deixa preocupada. Tem momentos em que os olhos dele ficam muito vermelhos, pela irritação”, diz outra mãe que preferiu não se identificar.

Ainda de acordo com ela, que participou da reunião com a médica, as dúvidas ainda são muitas. “Essa reunião acabou nos deixando ainda mais confusos, em relação as causas que essa doença podem trazer. Uns dizem que se o tracoma não for tratado perfeitamente, pode levar a cegueira. E na mesma reunião, alguns profissionais explicaram que o antibiótico que será fornecido pela prefeitura e dado em dose única amanhã (22), vai resolver todo o surto. Além do meu filho, toda a família também será medicada, o que me deixa mais tranquila”, conta.

Nossa reportagem também conversou com uma funcionária da escola. Ela diz que existe certo exagero das pessoas. “Aqui está tudo normal. O povo na rua que está tudo doido, pois não sabem ao certo o assunto e acham que é o fim do mundo”, afirma.

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Dra. Elizabeth Pádua explica que é preciso cuidado com a doença.

Detalhes. O portal27 procurou a oftalmologista Dra. Elizabeth Pádua, que nos explicou que a doença é infecciosa e cuidados devem ser tomados. “O tracoma se apresenta inicialmente como uma conjuntivite infecciosa que pode ser transmitida pelo contato direto com as secreções ou indireto , por meio de objetos de uso pessoal”, explicou.

De acordo com ela, para o combate a doença, existem protocolos da Organização Mundial de Saúde que devem ser seguidos. Perguntada se existe um surto em Guarapari, ela disse não ter detalhes para afirmar qualquer coisa a esse respeito até o momento, mas que os cuidados com a higiene são sempre fundamentais .

Nossa equipe procurou também a prefeitura que nos respondeu através da assessoria de comunicação que o combate está seguindo as normas. Veja abaixo resposta na integra.

A Vigilância Epidemiológica informa que os trabalhos referentes ao tracoma estão sendo conduzidos de acordo com o protocolo do Ministério da Saúde por se tratar de um agravo de vigilância epidemiológica, onde recomenda-se o registro sistemático dos casos positivos, permitindo assim, o monitoramento da situação e o impacto das ações de controle.

As ações foram iniciadas com exames de todos alunos e funcionários da escola e, em um segundo momento, foi realizada uma reunião com os pais e responsáveis para esclarecimentos sobre o agravo e a respeito dos trabalhos realizados, principalmente em relação ao tratamento.

Todos os trabalhos foram conduzidos por uma médica da regional que faz parte da equipe de referência de tracoma. Informamos ainda que o tratamento dos casos positivos e os comunicantes já está agendado com a escola.

Em relação as demais crianças, podemos adiantar que haverá uma capacitação para os profissionais da rede a fim de dar continuidade aos inquéritos nas demais escolas.

Reportagem de Wilcler Carvalho Lopes e Roberta Bourguignon

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