Existe um mito em Guarapari. Reza a lenda que tudo que nasce aqui não vinga. As más línguas dizem que há uma cabeça de burro enterrada na Cidade Saúde. Porém, vez por outra, alguém consegue provar que essa teoria é só uma desculpa para preguiçoso. Sergio Costa Faria, CTO & Co-Fundador na UniPay, é nascido e criado aqui. Ele criou o PagSeguro, que foi vendido para a UOL e mudou a forma como se comercializam os produtos na internet no país. Confira abaixo uma entrevista em que ele conta suas experiências.

Sérgio aproveitou bastante a experiência fora do país. Foto: Arquivo Pessoal.
Sérgio aproveitou bastante a experiência fora do país. Foto: Arquivo Pessoal.

Portal 27 – Como você começou a se interessar pelo desenvolvimento de programas? O primeiro projeto que pôs em prática foi o PagSeguro ou já havia feito algo antes?

Sérgio – Comecei um pouco antes de entrar para a faculdade de Sistemas de Informação. Aprendi a programar lá. Na época (em 2002), eu li o livro “Aprenda ASP em 21 dias” e o primeiro sistema que eu fiz sozinho foi um site de e-commerce, similar ao Mercado Livre da época. Este projeto não foi pra frete e o meu segundo sistema foi um gerenciador para uma rede de óticas de Guarapari, o qual está em funcionamento até hoje. A BRpay (nome do PagSeguro antes de ser vendido para o UOL) nasceu só em 2005, alguns projetos depois.

P27 – Como surgiu a ideia da BRPay? Que insight você teve para criar o projeto?

Sérgio – Em 2004, fui chamado para trabalhar com o Armando Hilel, ainda em Guarapari. Na época, o Armando fabricava jóias aqui no Brasil (anéis, brincos, pingentes), vendia no eBay e recebia pelo PayPal. Seu primo, Leonardo Pascoal, também trabalhava lá e após alguns meses decidimos criar o nosso próprio sistemas de pagamento no Brasil, visto que o Mercado Pago funcionava somente interno no Mercado Livre, o PayPal ainda não havia vindo para o Brasil e nós vimos esta necessidade por parte dos lojistas de e-commerce. Em maio/2005 começamos com o projeto da BRPay.

P27 – Como você reagiu quando percebeu que o que tinha criado ia mudar a forma como se comercializavam os produtos pela internet no país e como surgiu o interesse na UOL na BRPay?

Sérgio – Não foi tanta surpresa em saber que mudaríamos o modelo de pagamentos no Brasil. Quando começamos com o projeto da BRPay eu já tinha certeza que seria um sucesso no Brasil, principalmente por termos sido pioneiros. A surpresa mesmo veio com o número de e-commerces que se cadastravam e a movimentação em um período tão curto. Seis meses após o lançamento contávamos com 1.000 clientes, e seis meses depois já contávamos com 100.000 clientes. O interesse do UOL veio em novembro/2006. Nesta época a BRPay já não era mais a única no mercado, mas era a maior.

P27 – Depois que a BRPay foi vendida você seguiu trabalhando em outros projetos, como foi apartir daí? Como você foi se envolvendo em novos projetos?

Sérgio – Vendemos para o UOL e a partir daí se chamou PagSeguro. Ainda dentro do UOL trabalhei em projetos de e-commerce, mas estes não me agradavam tanto quanto um projeto de pagamentos. Depois do UOL fui para outras empresas, até que em 2011 entrei como CTO (chefe-executivo de tecnologia) de uma outra empresa de meio de pagamentos online, a qual criei do zero com um time de desenvolvedores excepcionais. Em abril/2012 sai desta empresa e fui começar um projeto de moda para o mercado feminino que venho querendo criar há muito tempo. Comecei este projeto com três sócios, mas infelizmente após seis meses colocamos o projeto “na gaveta”. Em outubro/2012 fui chamado pela Tahiana D’Egmont e pela Mayara Campos para entrar como sócio e CTO de uma empresa de meios de pagamentos móveis (via smartphones), a UniPay. A UniPay foi uma das três empresas brasileiras a receber um investimento da 500 Startups no Vale do Silício e é para lá que eu fui em outubro/2012 e voltamos ao Brasil em Fevereiro/2013.

P27 – Como foi a experiência no Vale do Silício?

Sérgio – No meu caso, foram três meses em Mountain View e a experiência foi fantástica! Ouvir experiências de pessoas fantásticas no Vale é algo realmente inspirador. Uma coisa que é realmente valorizada no Vale é a cultura de que “falhar não é errado”. Aqui no Brasil, se você falha você é um perdedor, enquanto que lá, se você falha você adquire experiência, e as pessoas valorizam isso. Claro que não é um culto à falha, mas alguém que falha em algum projeto tem muito mais valor do quem alguém que nunca tentou.

Fora isso, o acesso à investidores e pessoas importantes no Vale é muito fácil, ao contrário do Brasil. Lá eu ia para o Starbucks em Palo Alto e sempre “me apresentava” para pessoas que se sentavam ao meu lado. Também em San Francisco eu conheci várias pessoas em cafés e uma vez no meio da rua, andando mesmo.

Uma coisa que aprendi lá que me marcou muito, é que as pessoas lá querem muito te ajudar, ajudar a sua startup crescer. Aqui no Brasil as pessoas pensavam muito em subir através dos erros dos outros, e forçavam para que você errasse. Esta cultura já está começando a mudar, e cada dia que passa conheço pessoas melhores aqui no Brasil que tentam se aproximar com a cultura do Vale do Silício.

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