Não sou muito de escrever respostas aos textos absurdos que leio em jornais ou na Internet, mas desta vez não foi possível ficar indiferente.
Em sua coluna “Outro Olhar”, Gabriel Tebaldi, do Jornal A Gazeta, escreveu um texto (15/06/2013, p. 25) que revela uma miopia aguda de dar inveja a muitos reacionários e pseudointelectuais. O rapaz, que ainda cursa graduação em História, não deve ter tido as disciplinas que lhe apresentariam os fatores que nos colocam como um país injusto e corrupto e, portanto, até muito pacífico.
Ao buscar tratar dos motivos que levaram a deflagração do movimento Passe-Livre, o colunista afirma que “os ônibus exercem um fetiche no imaginário pseudorrevolucionário, fazendo que centavos valham sague, suor e lágrimas justamente de quem, muitas vezes, tem passe livre”. E continua em outro trecho: “não precisa ser gênio para entender”, isso ao se referir que movimentos como o Passe-Livre é ineficiente. Juntamente a essa afirmação, aponta uma “brilhante, nova e revolucionária” solução, a de promover debates.
O colunista de A Gazeta, uma espécie de miniatura do Jabor global reacionário, porém em escala bastante reduzida em seu brilhantismo, conhecimento e eloquência, foi infeliz em seu texto, situação certamente de deixar seus professores envergonhados. Sabe por que, Tebaldi, o transporte público é alvo dos protestos? Não é por fetiche! Trata-se de um (apenas um dos muitos outros) exemplo de um “público” que não atende os interesses públicos, assim como ocorre na saúde, na educação, na política, na economia, na Copa do Mundo, etc. Muito do que deveria ser público já foi privatizado há muito tempo. O transporte público foi apenas a gota d’água que somado a “privatização” da polícia pelos políticos deu o que deu, ou melhor, no que está dando…
O colunista ignora por completo que sua sugestão genial de “solução” vem ocorrendo nos quatro cantos do país a muito tempo e sem resultados esperados pela sociedade. Será que ele nunca foi a congresso acadêmico onde o que existe são discussões? Será que ele não sabe que existem audiências públicas que não saem do papel? Nunca ouviu falar dos abaixo-assinados que não dão em nada? Será que não sabe que a questão é justamente ter voz efetiva? Falar e ser ouvido?! Há muito tempo o povo não tem a atenção dos políticos para que suas demandas sejam atendidas.
Parece que parte da sociedade entendeu que um palco onde se consegue a atenção é a rua. Por isso um dos vocativos mais eloqüentes nas redes sociais é o #vemprarua. Entendimento já a muito tempo consolidado nos países desenvolvidos, que aliás tornou-se desenvolvido socialmente após esse entendimento. Isso nos dá esperanças.
Centavos não valem sangue, suor e lágrimas. Por isso mesmo que não se trata de centavos. Trata-se de algo que a miopia de muitos impede de ver. Trata-se de questões tais como uma educação superior de qualidade, para que amanhã hajam menos míopes escrevendo em jornais e confundindo direitos com moedas. Preocupados em saber quantas vidraças foram quebradas e ignorando quantos manifestantes foram agredidos, feridos e humilhados. O patrimônio privado é mais importante do que seres humanos, não é mesmo?
Quanto a participação de partidos políticos em movimentos sociais, nada mais legítimo. Não é para isso que a democracia criou espaços para a existência destes? Não são eles uma organização social legal que podem e devem exprimir os interesses de seus representados ou, no caso, dos brasileiros que cansaram de ver o público ser privatizado em prol de interesses de grupos que detêm o poder político e/ou econômico? Nada mais democrático que a representação social.
Não sou favorável a nenhum tipo de violência, por isso mesmo estou do lado dos manifestantes… historicamente violentados pela política brasileira, a qual é injusta, corrupta e reacionária, e que nesse momento são violentados também pela polícia que está a serviço dessa política. O pior é que as maiores feridas não foram abertas pelas balas de borracha… isso é algo difícil de ser enxergado por pseudosintelectual. Relevo por supor que trata-se apenas de mais uma vítima dessa histórica violência.