Na segunda-feira (29) o Portal 27 publicou uma matéria sobre os problemas enfrentados por quem procura atendimento na Unidade de Pronto Atendimento de Guarapari. Logo depois da publicação, funcionários da unidade entraram em contato conosco pedindo para que a nossa equipe fizesse uma matéria sobre os problemas enfrentados por eles dentro da unidade.

São denúncias de assédio moral por parte da direção contra os funcionários, retaliações na forma de transferências e principalmente falta de equipe mínima para atendimento dos pacientes, que têm na Upa de Guarapari único local para procurarem ajuda em situações de emergência. As identidades de todas as pessoas ouvidas nesta reportagem serão preservadas, assim como suas funções, a pedido dos mesmos.

Unidade de Pronto Atendimento de Guarapari. Reclamação de demora no atendimento e falta de macas. foto:: João Thomazelli/Portal 27
Unidade de Pronto Atendimento de Guarapari. Reclamação de demora no atendimento e falta de macas. Foto: João Thomazelli/Portal 27

Falta de profissionais

A primeira questão levantada pelos funcionários sobre as reportagens publicadas pelo Portal 27 referentes aos problemas da Upa foi sobre o número de funcionários, principalmente de técnicos de enfermagem por plantão.

“Pelo menos 20 técnicos pediram exoneração ou foram exonerados nos últimos três anos, mas nunca um sequer foi reposto. No plantão de quinta-feira (25) que faltaram seis técnicos, pelo menos três já não trabalham para a prefeitura de Guarapari. Saíram porque conseguiram vagas em outras prefeituras e a administração ainda não deu baixa”, disse um dos funcionários.

Falta médico
De acordo com eles, o número ideal de técnicos em enfermagem para um plantão na upa de Guarapari seria de 10 profissionais.

Por causa desta falta de controle, funcionários que já não prestam serviço para a prefeitura acabam sendo escalados e claro, não aparecem para trabalhar. De acordo com os entrevistados, para cobrir estas ausências, a administração da Upa manda chamar pessoas que estão escaladas para outros plantões. Mas a solução é paliativa, já que no próximo plantão faltam técnicos também.

“Eles tapam um buraco aqui, mas abrem outro lá. Foram mais de vinte técnicos que saíram e eles ainda não contrataram outros para o lugar. E com a desorganização da administração, alguns são escalados para trabalhar, mas já não trabalham em Guarapari. Foi isso que aconteceu na quinta-feira. Faltaram técnicos de fato, mas outros que estavam escalados, já não fazem parte do quadro de funcionários. Tem uma menina que já está trabalhando em Minas Gerais e estava escalada para trabalhar na quinta-feira”, explicou outro entrevistado.

De acordo com eles, o número ideal de técnicos em enfermagem para um plantão na upa de Guarapari seria de 10 profissionais, mas na prática, a média é de seis por plantão, isso quando não há faltas ou funcionários exonerados e escalados. E os entrevistados fazem uma observação sobre o caso do homem que morreu no estacionamento da Upa:

“O maqueiro que seria a pessoa que poderia ter levado o homem para dentro da Upa, foi transferido para uma unidade de saúde para o setor de higienização. No próximo concurso não há previsão de vagas para estes profissionais. Ou seja, se a prefeitura não tivesse transferido o maqueiro, por causa de perseguição, talvez o caso tivesse outro desfecho”.

O Samu teve que se deslocar do bairro Aeroporto para socorrer o homem, mas ele não resistiu e morreu a menos de 20 metros da Upa.
Homem morreu no estacionamento da Upa de Guarapari: maqueiro poderia ter levado para dentro da unidade. Foto: João Thomazelli/Portal 27

Retaliações

Por causa do episódio da quinta-feira (25), a administração da Upa cancelou as férias de todos os funcionários. Pelo menos é o que garante os entrevistados.

“Tinha gente com viagem programada e tudo, mas como a diretora da Upa ficou aborrecida com a falta dos técnicos naquele dia, mandou avisar que todas as férias estavam suspensas. Tem gente que vai para o terceiro ano de férias vencidas e agora teve o descanso cancelado. É assim que funciona na Upa. Eles nos punem das formas mais diversas. Pode ser cancelando férias, como foi agora, transferindo o pessoal para outras unidades, além da perseguição”, conta um funcionário.

Vários profissionais da saúde que passaram pela Upa confirmam que as transferências dos funcionários é uma forma de “castigar” desafetos da administração tanto da Upa como do executivo.

Uma técnica que trabalhou há algum tempo na unidade disse que a transferência é uma forma de punição, já que diferentemente das unidades de saúde, na Upa o funcionário recebe alguns benefícios, como adicional noturno, por exemplo, que incrementam o salário no fim do mês. O salário médio de um técnico em enfermagem que trabalha na Upa é de pouco mais de R$ 1 mil por mês.

“No fim, o prejudicado é o povo”

Os funcionários da Upa que conversaram com a reportagem do Portal 27 esclareceram que não são insensíveis aos pacientes que procuram a unidade.

“Nós sabemos como a população fica desassistida quando não há médico, ou enfermeiro, ou técnicos suficientes para atender. Mas eles precisam compreender que nós, funcionários, não temos culpa disso. Somos xingados e maltratados diariamente por muitos que no desespero de serem atendidos, descontam em nós a raiva que sentem quando demora o atendimento. Mas o que podemos fazer? Não somos nós que contratamos. No fim, o prejudicado é o povo”, desabafa outro funcionário.

O que diz a Prefeitura de Guarapari?

1- Não procede a informação sobre funcionários exonerados voltarem a trabalhar na UPA, fato comprovado através da escala de enfermagem onde não constam os nomes destes funcionários, além do ponto biométrico e do livro de ocorrência de plantão (onde consta o nome de todos os profissionais que estão escalados para o plantão).

2 – É sabido que os Municípios passam por defasagem de servidores e que, diante dos limitados recursos financeiros, ficam impossibilitados de fazer reposição, principalmente, num momento em que está sendo feita uma contenção de despesas. Ainda que exista um quantitativo ideal, a realidade dos municípios brasileiros vivenciada hoje, e em Guarapari não é diferente dos demais, é de mão de obra reduzida. Não há, hoje, processo seletivo que preencha esta ausência.

“O agravante ao caso é o quantitativo de atestados médicos e faltas, que acontecem diariamente e que prejudicam a situação de assistência na UPA.” – Aurelice Viera, Secretária de Saúde.

3-  O procedimento de transferência de funcionários só é realizado quando se faz necessário. Valendo ressaltar que o funcionário é do município e não exclusivo da UPA, e quando o mesmo não se adapta ou não tem o perfil para este ambiente de trabalho, é necessário fazer o seu remanejamento para outro posto de trabalho mais adequado.

Por meio do Decreto 551/2015 (anexo), datado de 05 de outubro de 2015, foi realizada a suspensão da concessão de férias até 31 de dezembro de 2015. Nos meses de Janeiro e Fevereiro, pelo fato de os servidores receberem uma gratificação de alta temporada, não há interesse destes funcionários em tirar férias. No mês de março, devido ao grande número de atestados médicos e faltas injustificadas apresentados, consequentemente, o quantitativo de funcionários gozando de férias foi reduzido, uma vez que a Unidade não pode ficar prejudicada no que diz respeito à prestação de serviço à população. Ou seja, se há mais faltas por atestados, há menos possibilidade de se conceder férias aos demais funcionários.

Decreto 551/2015 – Dispõe sobre adoção de medidas administrativas para contenção de gastos no município de Guarapari.
Art. 1º – Ficam suspensas, até 31 de dezembro de 2015, as concessões de Férias, excetuados os casos do § 1º, art. 86 da Lei Municipal de nº 1.278/1991.

Quanto ao assédio moral e ameaças por conta da Direção da UPA e Secretária de Saúde, o que procede é cobrança do comprometimento, responsabilidade e ética profissional, visando o melhor atendimento e acolhimento à população que utiliza deste serviço.