Marcelo Moryan e Omran Daqneesh - Imagens Díspares de uma Realidade Irreal.
Marcelo Moryan e Omran Daqneesh – Imagens Díspares de uma Realidade Irreal.

 

Quando li o livro “O CAÇADOR DE PIPAS”, de Khaled Hosseini, há aproximadamente uma década fiquei impressionado com o diálogo em que o Pai de Amir diz:

Existe apenas um pecado, um só. E esse pecado é roubar. Qualquer outro é simplesmente a variação do roubo. Quando você mata um homem, está roubando uma vida. Está roubando da esposa, o direito de ter um marido, roubando dos filhos um pai. Quando mente, está roubando de alguém o direito de saber a verdade. Quando trapaceia, está roubando o direito à justiça”. Nunca mais esqueci esta reflexão e ela nunca foi tão atual como agora. ESTAMOS ROUBANDO DA REALIDADE O SEU DOM DE SER “REAL”.

O que “Baba”, pai de Amir, exemplifica acima, VIOLÊNCIA, MENTIRA e TRAPAÇA, se tornaram tão corriqueiros e banalizados que já não nos afetam mais. É como se estivéssemos anestesiados pela completa AUSÊNCIA de sentimentos – falta da realidade que nos foi roubada, ao transformarem valores essenciais à vida em puros acasos… dentre eles o mais importante de todos – o amor ao nosso semelhante. E nada mais impiedoso, vergonhoso e flagrante delito da causa humana que deixar Guerras parecerem coisas normais.

O mundo está empesteado de GUERRAS, cujas vítimas assistimos pelas tvs, como parte de novelas de terror. Assim como em qualquer folhetim, mais nos parece a parte tediosa, porque nunca tem fim. E não falo de guerras distantes. Há guerra de todos os tipos e em todos os lugares. Guerras físicas, psicológicas, verbais, políticas, santas, sociais e midiáticas. A principal delas vivemos ao desligar a TV – a guerra familiar. Alguns dirão: “Tudo isso é assim desde que o mundo existe”. Discordo, pois a família está cada vez mais se resumindo a um papel de figurante… se fosse ao contrário haveríamos de ter mais sentimentos, pois ela é a fonte primária de todas as outras que faz o berço da vida.

Parafraseando “Baba”, TUDO É FAMÍLIA – QUANDO VOCÊ TIRA DO INDIVÍDUO ESTA BASE SECULAR, VOCÊ COMEÇA A CRIAR TODAS AS GUERRAS. Por consentimento também acaba criando as “REALIDADES IRREAIS” – o que é CERTO passa a ser ERRADO.

Um fragmento desta REALIDADE IRREAL é Omran Daqneesh, garoto sírio de 05 anos, regatado após um bombardeio na Síria – A imagem é de um questionamento implacável, o próprio garoto, impávido e em silêncio profundo, parece nos dizer que não CRER em mais nada… ou nas palavras do pediatra que o atendeu na região de Alepo, Dr. Abou al-Baraa:

“O mundo olha diariamente fotos e vídeos no YouTube de crianças resgatadas dos escombros, mas não faz nada. Contenta-se com belas palavras”. 

Confesso que não tenho argumentos. Omran e milhares de outros que morrem pelo mundo afora pelas mãos da brutalidade viraram parte de uma novela insana, cujo capítulo final está longe de imitar o final almejado por uma minoria – O FINAL FELIZ!

Para aqueles que ainda guardam um fiapo de consciência, a Imagem do drama de Omran tornou-se forte por algum motivo. Para mim, veio-me instantaneamente a minha imagem sentado na mesma posição em uma cadeira na infância. Ao contrário de Omran minha imagem é feliz e espelha o amor da família refletida em volta. Que chances ou sorte tem Omran, aterrorizado e destruído pela guerra, de experimentar este calor humano?

Omran, perdoe-me se as minhas palavras parecem apenas bonitas como bem exemplificou o Dr. Abou al-Baraa. Eu não posso devolver o mundo que lhe foi roubado. Eu apenas posso incentivar com exemplos meus filhos, Moara, Ryan e Thales. Eles são a minha esperança na construção de um mundo melhor – SEM GUERRAS – UM MUNDO DE REALIDADES REAIS –  UM MUNDO DE FAMÍLIAS. Creio que devolver à Família seu papel de protagonista na NOVELA HUMANIDADE dará aos seus filhos Omran, a chance de serem normais, quiçá felizes.

Omran Daqneeesh após receber atendimento na região de Alepo - Síria.
Omran Daqneeesh após receber atendimento na região de Alepo – Síria.

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