Liberdade. Essa foi a definição exata do sentimento de Edson Batista Adorno, 56 anos e Maria de Fátima Mendes de Souza, 45. Eles foram vítimas, por mais de 14 horas, de cárcere privado, dentro da padaria onde trabalham há mais de um ano, no bairro Nossa Senhora da Conceição, em Guarapari. Eles foram rendidos e passaram por momentos de terror dentro do  estabelecimento. Reveja o caso.

Edson e Fátima voltam a trabalhar  na padaria nesta segunda-feira (11), às 6h da manhã.
Edson e Fátima passaram momentos de terror com toda a situação.

Nossa reportagem conversou em primeira mão com o casal, que contou todos os detalhes do sufoco que passaram com o rapaz armado no local e a polícia do lado de fora. Eles contam que abriram o comércio às 6h da manhã. Era um dia tranquilo como todos, mas com pouco movimento nas vendas. Confira abaixo a entrevista com o casal.

Fátima, quando Lucas entrou na loja, qual foi a primeira reação que vocês tiveram? Só estava eu e meu marido, nós ouvimos um tiroteio na rua e  fui até a porta para olhar e avistei o rapaz subindo com a arma em punho, atirando. Entrei para avisar ao meu marido que tinha um homem estranho subindo o morro, armado. Foi muito rápido, ele subiu as escadas, caiu, entrou e disse que estava sendo perseguido e pediu que a gente fechasse as portas. No mesmo momento apareceu o policial e eu pedi que ele ficasse calmo.

Você usou o telefone celular para avisar a sua filha sobre a invasão? Minha filha mais velha estava me ligando o tempo todo e eu mandei uma mensagem pra ela avisando que eu não poderia atender e explicando o que estava acontecendo no momento. O meu marido também conseguiu falar com ela e pediu que ela ficasse calma, que tudo iria dar certo.

Lucas
“Ele sempre falava que não iria fazer nenhum mal para nós”

A todo momento, o que Lucas falava para vocês? Ele sempre falava que não iria fazer nenhum mal para nós. Primeiramente, na hora que ele entrou, apontou a arma pra gente e pediu que nós ficássemos em um canto. Ele falava que não queria se entregar, que não queria ser preso e falava diversas palavras desencontradas. Nós sempre pedíamos que ele ficasse calmo, que ninguém iria entrar na padaria e ele começou a procurar se tinha outras entradas e saídas. Não tinha saída. Ele ficou muito preocupado com as básculas que tinha, mas a gente começou a conversar. Ele sempre falava sobre uma namorada, que já havia cometido diversos assaltos e que não queria fazer aquilo e começou a colocar  a arma em sua cabeça dizendo que iria se matar. Lucas estava muito confuso, não sabia o que ele queria. Chegou a pedir a presença do governador.

Como foi feita a troca do colete a provas de balas pela sua liberdade Edson? O policial fez um acordo com ele, ele queria uma pistola, um fuzil, droga, queria um carro com motorista e que iria levar a minha mulher como refém. Disse que a largaria no meio do caminho. Eu sou diabético e comecei a passar muito mal nesse momento, pois só havia sido medicado na parte da manhã e já estava ficando tarde. Como toda aquela tensão, eu só piorei e eu ia dizendo para ele. Aí ele me liberou, levantei parte da porta e saí. Os policiais entregaram o colete para o rapaz e eu fui para a ambulância.

“Ele cantava muito funk, bebeu três latinhas de energético e comeu um pacote de chips. Disse que depois a mãe dele iria na padaria pagar” Diz a comerciante de 45 anos.
 
Os dois são evangélicos e permaneceram todo o tempo no cativeiro em oração
Os dois são evangélicos e permaneceram todo o tempo no cativeiro em oração

Como foi o momento quando os PMs cortaram a energia? Eles cortaram a luz e nós ficamos no escuro. Estávamos preocupados com as comidas. Nós temos seis freezeres e podia estragar tudo. Mas diante de tudo, nós que somos evangélicos, ficamos em oração, pedindo a Deus força e proteção. Nós confiamos muito nas negociações. O negociador é uma pessoa muito competente, tranquila, sempre estava conversando, descontraindo o rapaz e em alguns momentos ele chegou até a rir.  Enquanto bebia os energéticos, Lucas cantava muitas músicas de apologia ao crime e que iria lançar um cd de funk.

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“O negociador é uma pessoa muito competente, tranquila”

Em algum momento ele disse que iria matar vocês? Não. Em nenhum momento. Ele sempre falava em se matar. Disse várias vezes para os policias que eles poderiam ficar tranquilos, que não nos mataria e não iria fazer nada conosco, apenas nos liberaria.  Nós procurávamos conversar bastante com ele. Aconselhávamos a se entregar, que iria ficar tudo bem. A gente sempre pensava em colocar para Lucas que ele era uma pessoa boa. Ele acabou tento uma certa confiança em nós. Se a gente tivesse entrado em desespero, poderia ter sido pior. Ele chegou a colocar um botijão de gás em frente a porta, porque alegou que se a Polícia entrasse, ele iria atirar e explodiria tudo.

Fátima, como foi o momento da sua saída ? Ele pediu aos policiais que todo mundo fosse descansar, que no outro dia continuaríamos as negociações. O negociador deixou ele um tempo quieto, foi quando ele dormiu. Eu não sai nessa hora, com medo dele acordar e me dar um tiro. Cinco minutos se passaram. Ele acordou e disse que eu poderia sair, foi quando eu levantei a porta e sai correndo.

Como vocês estão agora, depois de tudo que passaram? É uma experiência que a gente teve e que nunca mais queremos viver. Sentimento de liberdade, é um sentimento de saber que Jesus trabalhou em nossas vidas.

Edson e Fátima informaram a nossa reportagem que irão abrir amanhã a padaria, às 6h e que seguem suas vidas cada vez mais unidos.

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