Ele tinha 76 anos. Para uns, uma idade avançada, para outros um momento de aproveitar a vida. Mas para Sr. Alberto Crespo, foram tempos de dedicação ao desenvolvimento da cidade. Aposentado como gerente administrativo da Petrobrás, no Rio Grande do Sul, Sr. Alberto Crespo se mudou para Guarapari logo após a aposentadoria do casal, há mais de 20 anos. 

Sua esposa, Silvia Crespo, 75 anos, aposentada como bibliotecária da Secretaria de Cultura do estado do Rio Grande do Sul, conta que ele era um apaixonado pela cidade de Guarapari. 

Dona Sílvia mostra a foto de Sr. Alberto quando frequentaram Guarapari pela primeira vez. Foto: Roberta Bourguignon

“Nós vínhamos veranear sempre aqui e quando nos aposentamos, nós viemos morar e ele se dedicou a ajudar Guarapari e a Areia Preta que ele sempre frequentava. Já desde bem mais moço, quando não era nem doente a gente vinha aqui. Ele é de Niterói, ele é fluminense. Eu sou gaúcha”, conta Silvia. 

E completa. “Eu quando tinha 20 anos veraneava aqui, vinha aqui de Niterói e vinha com minha avó e veraneava aqui no Radium Hotel, frequentava o Siribeira e lá a boate do Caparaó, a boate Azul, isso aqui não tinha calçamento. E aí quando o Alberto começou com esse problema, eu me lembrei de trazê-lo pra cá e a gente alugava apartamento nesses edifícios. E ele começou a vir uma vez por ano aqui já por causa do problema de saúde. Depois aposentou e veio morar aqui, uma cidade calma pra quem saiu de Porto Alegre, muito grande, aqui é tudo pertinho né. A gente gostou muito”. 

Portador da doença espondilite anquilosante, uma espécie de reumatismo, que o deixava curvadinho, não o limitava em nada. Sr. Alberto se dedicou aos trabalhos voluntários, fundou grupo de amigos, com o amigo Themistocles Neto, reformaram várias áreas do Radium Hotel. Com a esposa, implementaram cerca de 30 cursos no local. 

Uma das reformas no Radium Hotel.

“O Alberto fundou o Conselho do Idoso, ele nem era idoso, tinha só 55 anos, mas foi um dos primeiros fundadores, quando Paulo Borges fez o Conselho do Idoso, na Associação dos Pescadores. Eu montei a primeira biblioteca lá no Conselho do Idoso. E a biblioteca andou por vários lugares, depois, por último no Radium Hotel, e agora está lá na delegacia da mulher, na Secretaria de Assistência Social. Ele gostava de frequentar tudo quanto era reunião, essas coisas políticas e eu detestava essa parte, eu vinha e tomava conta aqui do Radium Hotel, fiz alfabetização de adultos, fazia enxovais pra Secretaria de Assistência Social, sempre em outra área, então a gente quando se encontrava tinha bastante assunto. Porque a gente chegou aqui e já começou de cara a trabalhar”, conta dona Silvia. 

No último domingo, após a votação do segundo turno, Sr. Alberto tropeçou e acabou sofrendo um acidente na porta do prédio onde morava. “Depois de votar, quando estava chegando em casa tropeçou e deu com a cabeça na porta da garagem e fraturou a base do crânio. Se ele sobrevivesse, ficaria paraplégico. Faleceu hoje às 9 horas. Foi, assim, a gente pediu pra não fazer nenhuma intervenção, não entubar, não fazer nada disso pra ele não sofrer, ele já sofreu bastante com essa doença que ele tinha. Ele foi se apagando lentamente, em paz, com o filho dando a mão pra ele. Ele estava no São Lucas, na sala vermelha, é uma sala que não pode nem entrar. Eles só deixaram meu filho entrar porque viram que a situação era extrema. O filho veio de Maceió”, relata ela. 

Casados por 52 anos, Dona Silva e Sr. Alberto tiveram um casal de filhos. A Lélia que é psicóloga em Guarapari e o Gustavo que era piloto e mora em Maceió, agora é coach. 

Sr. Alberto foi homenageado muitas vezes.

Para dona Silva, um sentimento de muito orgulho da história que construíram juntos. “Sinto, sinto muito orgulho da gente, graças a Deus. Ele também foi muito importante para o município. Foi bastante, até leis ele ajudou a fazer. Ele ia à Câmara dos Vereadores, não faltava uma sessão. Marquinhos Borges chamava ele de décimo terceiro vereador, porque tinha 12 na época. Foi excelente, ele foi bastante apreciado por todos. Após sua morte, até o pessoal da maçonaria fez homenagem pra ele, disse que ele é um exemplo de vida que só trouxe o bem pra Guarapari e construiu muitas coisas. Nós estávamos com as fotos, tudo aí que ele reformou, o telhado do Rádium Hotel, pintou a Matriz, reformou tudo lá, a fonte dos Jesuítas, a praça da bíblia quando estava muito destruída, ele que reformou, então uma série de coisas boas”.

Com a morte de Sr. Alberto, dona Silvia disse que agora ela fica pra carregar esse nome dele. “Tomara que eu tenha força e me deixem trabalhar. Porque agora a gente não está mais podendo trabalhar. Teve essa situação do Rádium Hotel… Uma pena, sabe. Nós tínhamos um centro cultural com 23 cursos e 23 professores, agora tem 3. Tá fechado, tá acabando. Eles podem se orgulhar disso né, terminaram com um centro cultural que funcionada de manhã, de tarde e de noite com 23 cursos. A prefeitura tirou a gente pra dizer que vai reformar, mas não reforma”, lamentou ela. 

O corpo de Sr. Alberto foi velado e cremado no cemitério Parque da Paz, na Barra do Jucu, em Vila Velha, na última terça-feira. 

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