Hoje passei pela terceira ponte…. Naqueles mais de três intermináveis quilômetros não pude deixar de me lembrar de que as memórias de infância, de diversão, de compras em Vitória se transformaram em angústia, angústia, sentimento de impotência pelas vidas levadas a cabo quase todas as semanas naquele local.

Hoje, quando passo pela terceira ponte me lembro que, por mais que a imprensa siga as orientações da Organização Mundial de Saúde de não divulgar notícias sobre suicídio, as redes sociais dão conta do recado…

Hoje, quando passei pela terceira ponte, não pude deixar de me lembrar da mulher que há alguns dias desceu do carro que estava à minha frente e subiu no parapeito daquela ponte – daquela bendita ponte – para atirar-se. Não pude deixar de me lembrar de que essa mulher provavelmente tinha – ou tem – família, que provavelmente se despediu de seus entes queridos para não mais voltar. Não pude deixar de me lembrar da ação de uma senhora que chegou ao lado daquela mulher prestes a dar cabo à vida, não pude deixar de me lembrar do rapaz que a abraçou por trás, não pude deixar de me lembrar do meu desespero, do choro, de tudo o que passou em minha mente enquanto atravessava a ponte naquele dia.

“não pude deixar de me lembrar da mulher que há alguns dias desceu do carro que estava à minha frente e subiu no parapeito daquela ponte “

Hoje, quando passei pela terceira ponte, ao me lembrar do caso dessa mulher, veio à minha memória também o dia 10 de setembro, dia em que a ponte ficou fechada por mais de oito horas, dia em que uma vida foi resgatada. Dia também em que assistimos a um circo de horrores, desde motoristas buzinando até agressões verbais e reproduções de ódio do tipo: “quer se matar, se jogue logo”, “pode pular, só não atrase minha vida”, “isso tudo para salvar um morador de rua” e outros ataques de pessoas que não tem o mínimo de amor ao próximo.

Hoje, quando passei pela terceira ponte, não pude deixar de me lembrar do motivo pelo qual conversei pela manhã com meus alunos sobre suicídio, do motivo pelo qual precisamos falar desse tema, por que precisamos entender que depressão é uma doença que precisa ser tratada, que as pessoas necessitam de ajuda, que devemos estar atentos aos detalhes e mais, precisamos entender que “quem comete suicídio quer acabar com a dor, não com a vida”.

Hoje, quando passei pela terceira ponte me veio à mente por que assisti à série da Netflix “Thirteen Reasons Why” (Treze porquês) somente pelo fato de que meus alunos estavam assistindo. Lembrei-me de nosso debate, de como a série fez sucesso, de como ela trata (infelizmente) de maneira romântica o tema suicídio, de como ela erra em mostrar métodos, de como é forte, triste, impactante e desnecessário o último episódio da primeira temporada…

Hoje, quando passei pela terceira ponte refleti muito sobre a vida, sobre a forma como Deus nos abençoa todos os dias, e sobre como essa vida pode estabelecer a relação paradoxal de ser ao mesmo tempo tão preciosa e tão frágil… A terceira ponte… Muitas outras pontes…

Hoje, sempre que passo pela terceira ponte, naqueles mais de três quilômetros é impossível não virem lágrimas aos olhos, lágrimas por um povo que chora e que sofre, lágrimas pela falta de empatia e amor ao próximo, lágrimas de quem quer e precisa, mesmo que na proporção de uma gota em meio ao oceano, fazer algo. Vamos mudar esse quadro, minha gente. Setembro amarelo, prevenção ao suicídio. Precisamos dar valor à vida. 

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