Por Lívia Rangel

Dar ou não dar esmola? Um questionamento que ficou em evidência após reportagens publicadas pelo portal 27 sobre o crescente número de pessoas em situação de rua na Praça Philomeno Pereira Ribeiro, a Pracinha do Itapemirim, em Muquiçaba, e na Avenida Paris, na Praia do Morro.

Um questionamento que ficou em evidência após reportagens publicadas pelo portal 27 sobre o crescente número de pessoas em situação de rua

É um assunto que divide opiniões. De um lado, o sentimento cristão de ajudar o próximo através da caridade. Do outro, o argumento de que incentiva a permanência dessas pessoas nas ruas. Alguns defendem que a solidariedade é um dever ético. Outros acreditam que não contribui para transformar a condição de miserabilidade dos pedintes. Então, o que fazer?

Não dê esmola!

Para o vereador Rodrigo Borges, é preciso realizar campanhas de conscientização para a sociedade civil parar de dar esmolas. “Não é uma ideia radical, é direcionar os recursos para quem pode de fato fazer o trabalho correto. Dar esmolas é paliativo, precisamos resolver o problema por inteiro. E esse trabalho é realizado pelo Centro Pop”.

O parlamentar é autor de uma indicação “Não dê esmola!”. Aprovada pela Câmara Municipal, a ideia segue para apreciação da prefeitura. “Toda vez que algum cidadão for abordado por um morador de rua, ele deve dizer que já fez a doação dele para o Centro Pop. Se a gente conseguir fazer com que eles procurem o Centro Pop, já é o primeiro passo”.

Para o vereador Rodrigo Borges, é preciso realizar campanhas de conscientização para a sociedade civil parar de dar esmolas.

Rodrigo acredita que falta iniciativa do Poder Executivo Municipal. “A sociedade civil está financiando a permanência deles nas ruas. O poder público é omisso. Não podemos tratar desse assunto como tabu. Eu tive um familiar que ficou em situação de rua por 2 anos. Eu sei como é, vivi de perto, e digo que precisamos agir”.

A preocupação do vereador com o crescente número da população em situação de rua, é que se torne uma “cracolândia”. “Hoje, são grupos pontuais em alguns determinados locais dos bairros. Vamos esperar o pior acontecer para fazer alguma coisa? É um problema de saúde pública. É um aspecto negativo para uma cidade turística. É questão de segurança pública”.

Esmola: um ato de amor

Entretanto, para o grupo “Trabalho sem Limite”, distribuir as marmitas para as pessoas em situação de rua é um ato de amor. “A gente que nunca passou fome, é fácil falar. Mas eles, que estão na rua, com frio, com fome, sem família, sem dignidade, quem vai olhar por eles? Ainda acho que o que fazemos é pouco”, desabafa uma das integrantes do grupo, Maria do Carmo.

Para o grupo “Trabalho sem Limite”, distribuir as marmitas para as pessoas em situação de rua é um ato de amor.

São em média 60 marmitas distribuídas às segundas, quartas e sextas. Tudo feito através de doações e trabalho voluntário. “É um prato de comida que tira a fome ali na hora. Sabemos que não resolve a situação, mas já ajuda. A nossa parte como cidadãos de bem estamos fazendo, agora os órgãos públicos também precisam fazer a parte deles”.

De acordo com ela, é preciso analisar todas as vertentes. “Se ninguém mais der esmolas e eles começarem a roubar, a furtar… Porque a maioria é viciada em álcool ou drogas. Ou então vamos deixar eles morrerem de fome ou de frio? Não é um problema racional, é um problema que lida com gente, com ser humano, com pessoas com direitos e sentimentos”.

Maria do Carmo também não concorda em fazer doações para o Centro Pop. “É uma entidade da administração pública que já tem recursos destinados para este fim. Acredito que o melhor caminho é o trabalho em conjunto. O Centro Pop faz o trabalho deles, as obras de caridade fazem o trabalho delas e o cidadão que quiser ajudar dando esmola, que dê esmola”.

O que diz a Prefeitura?

A Secretaria Municipal de Trabalho, Assistência e Cidadania (Setac) informou que o município já possui uma campanha com a finalidade indicada pelo vereador chamada “Doação Qualificada”. O objetivo é orientar a população sobre a forma ideal de ajudar, fazendo com que a pessoa saia da condição de morador em situação de rua. Segundo a prefeitura, o que dificulta a saída desses indivíduos das ruas é a própria mendicância.

Quem tiver interesse em ajudar, entre em contato com a secretaria para se cadastrar pelos telefones (27) 3362-1220 ou (27) 99987-5590. As doações – que podem ser: mão de obra, oportunidade de emprego, alimentos, roupas, recursos -,  são destinadas para o Centro Pop, onde são atendidas pessoas em situação de rua das 8h às 19h, com higienização, alimentação e oficinas socioeducativas e de ressocialização.