O corte de duas castanheiras, localizadas no final da orla da Praia do Morro, para a construção do Centro Turístico e Cultural se tornou alvo de uma grande polêmica em Guarapari. O assunto foi debatido em uma reunião pública realizada pela Comissão de Agricultura e Meio Ambiente da Câmara Municipal, na noite desta quinta-feira (15). Mesmo tendo recebido o convite para participar, nenhum representante da Secretaria Municipal de Meio Ambiente ou da prefeitura compareceu ao evento.

O presidente da Comissão, vereador Thiago Paterlini, explicou que a reunião foi proposta para que o município pudesse explicar o projeto para a comunidade. “Houve um grande clamor da sociedade para que houvesse a explicação do projeto. Entendo que a arte da política é o diálogo então essa foi uma oportunidade da sociedade pedir para que as castanheiras não sejam retiradas e para que fosse explicado o que vai ser feito naquele espaço”, disse o parlamentar.

Comissão de Agricultura e Meio Ambiente e representantes do IEMA, da Associação de Moradores da Praia do Morro e do setor hoteleiro discutiram a retirada das árvores da orla da Praia do Morro. Foto: Rafaela Patrício

Thiago afirmou ser contra o local ficar sem árvores. “Na minha opinião as castanheiras devem ser mantidas. Se o poder público acha que elas não são apropriadas para estar ali, plante primeiro uma árvore apropriada e após ela  estarem em tamanho adulto, façam a supressão dessas castanheiras para que todos possam continuar desfrutando da sombra que elas proporcionam”.

O relator da Comissão, vereador Marcos Grijó, também se posicionou contra a retirada das árvores e pediu que o município faça um projeto de urbanização e paisagismo. “O projeto tem que contemplar a manutenção. Um bom arquiteto pode fazer um trabalho de paisagismo e de manutenção das castanheiras com o contemplamento delas onde estão. Além disso, todas que estão ali já foram contempladas pelo projeto de reforma da Praia do Morro. Daqui a pouco vão querer tirar as castanheiras da Praia das Castanheiras também, que é uma das mais famosas do município”.

Na ocasião, a presidente da Associação de Moradores da Praia do Morro, Fátima Fonseca, entregou ao presidente da Comissão o abaixo-assinado com mais de mil assinaturas recolhidas pelos idosos que se exercitam no final da orla. Ela também se posicionou contra o corte de árvores na cidade.

Presidente da Associaçaõ de Moradores da Praia do Morro Fátima Fonseca entregando o abaixo-assinado contra o corte das árovres para o vereador Thiago Paterlini. Foto Rafaela Patrício

“Somos contra todo o corte de árvores. A Praia do Morro  hoje é um lugar que praticamente não tem árvores e  nós precisamos delas para viver. Quando foi feita a obra na orla eram 297 árvores, dessas ficaram só 90. Essas não são tão frondosas e a proposta era de se plantar mais. Mas isso acabou sendo feito pela Associação, que em 2015, fez um projeto e plantou 56 mudas de plantas nativas e propícias para orla com o apoio da construção civil e da comunidade”, disse Fátima.

IEMA. O engenheiro florestal do Instituto Estadual do Meio Ambiente (IEMA) do Georges Mitrogiannis explicou que as castanheiras são árvores exóticas e suas raízes possuem enzimas que impedem que outras espécie cresçam onde elas estão. Segundo ele, elas também são responsáveis pela erosão nas praias. “Na areia da praia elas contribuem com a erosão costeira. Um exemplo é a Praia do Riacho. Anteriormente a existência das castanheiras ali havia a restinga, que é a vegetação nativa e fixa a duna funcionando como uma barreira para o mar, e nunca aconteceu a erosão marítima. Com o plantio das castanheiras a restinga morreu e veio uma ressaca muito grande que derrubou as castanheiras. Na ressaca desse ano ocorreu a erosão”.

Doenças. Segundo Georges, a argila com matéria orgânica que existe em torno das castanheiras somadas ao sombreamento e alta umidade acarretam grandes problemas de saúde  como micose, bicho geográfico e toxoplasmose. ‘Em Guarapari tem esse problema de cachorros soltos na cidade. Tudo isso traz problemas para a saúde do município. Concordo com todos sobre o benefício do sombreamento então toda a população tem que mensurar o que seria interessante, o impacto ambiental gerado ou os benefícios que ela traz”.

Alternativas. O urbanista da Associação Gaia Relicare, Cesar Ivan, se posicionou a favor da retirada das castanheiras e explicou que elas podem ser substituídas por outras espécies. “Como alternativas para as castanheiras tem a clúsia, que é nativa e faz fotossíntese à noite, e o abricó da praia, que crescem rápido. Alternativas não faltam”, disse o urbanista. Ele também explicou que a situação da Praia das Castanheiras é diferente da Praia do Morro. “Cada praia é uma praia. A Praia das Castanheiras  tem um monte de pedras e o mar nunca vai chegar na areia onde estão as castanheiras. Agora a Praia do Morro já foi”.

Ao término da reunião o presidente da Comissão de Agricultura e Meio Ambiente explicou que a Câmara não tem como impedir o Executivo retirar as árvores. Mas afirmou que vai encaminhar o abaixo-assinado e outros documentos que serão preparados para o Ministério Público e o prefeito.

Convoção. Segundo o parlamentar, como a secretária de Meio Ambiente, Thereza Cristina Barros, não compareceu na reunião em que foi convidada a participar, será convocada para comparecer na próxima, que será realizada na próxima quarta-feira (21) às 18h. “O convite foi para que ela viesse explicar o objetivo do projeto. Como não veio, nessa reunião do dia 9 vamos convocá-la, conforme nosso regimento, para que ela venha fazer esses esclarecimentos”, finalizou o vereador Thiago Paterlini.

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